Você sabe como educar para o desenvolvimento da Cultura da Paz e Não-Violência Ativa nas escolas?
A educação para a cultura da paz é um caminho que todo educador deve trilhar no dia-a-dia das escolas em que trabalham, mediante este contexto de violência extremada e desregramento geral da sociedade em que vivemos. Por experiência própria, posso garantir que a paz é extremamente viável, quando se tem o compromisso e o comprometimento. Os avanços tanto para os educadores e os educandos, quanto para a escola e toda a comunidade é bastante perceptível, a convivência passa a ser mais harmônica, feliz e humanizada.
Para realizar atividades que envolvam a temática da cultura da paz é preciso estar atentos a alguns príncipios que norteiam a cultura da paz:
A paz é hamonia e está dentro em nós e não fora, deve ser consentida pela força da vontade, escolha, disponibilidade e luta) e buscada na consciência perseverantemente;
Paz é ação proativa e atividade prática, nunca é inércia e apatia, devendo ser um compromisso criativo pela arte de viver a vida com paz;
Faz-se necessário trabalhar com todas as multidimensões do indivíduo em sua integralidade, o ser humano deve ser entendido como um conjunto e não um fragmento;
A paz precisa ser trabalhada como tema transversal, de forma inter e ou transdiciplinar no currículo escolar, de maneira natural e consubstancial à vida;
A pacificação pode ser trabalhada nos aspectos pessoais (paz consigo mesmo), sociais (paz com os outros e as estruturas socioculturais) e ambientais (paz com o meio ambiente que se vive);
É um processo dinâmico, contínuo e permanente, onde os indivíduos devem aprender a olhar para si e para a realidade de forma proativa, crítica, afetiva, reflexiva, etc.;
O educador deverá ser o grande exemplo para os educandos na mediação dos valores inerentes a cultura da paz e não-violência;
A arte e suas linguagens são importantes recursos para o desenvolvimento desta cultura,ajuda o homem no seu processo de humanização, desenvolvendo a sua formação comunicativa, a organização cognitiva e afetiva aprofundando a consciência de si mesmo e da realidade mundo;
Deve ser orientada numa perspectiva criativa e positiva dos conflitos, onde os indivíduos devem aprender a conviver, a dialogar e a agir pacificamente, estabelecendo relações saudáveis e harmônicas;
É importante saber que a paz está ligada as noções de desenvolvimento, justiça social, democracia e direitos humanos;
Deve-se buscar nos indivíduos o desenvolvimento dos valores humanos (paz, amor, verdade, ação correta e não-violência);
Existe um série de outros princípios...Mas é importante saber que o caminho para a construção da cultura da paz é a aprendizagem, é um exercício diário de transformação e de mudança das velhas formas do viver e para as novas formas do conviver, onde os educadores devem orientar e mediar situações em que educandos percebam novas possibilidades de compreender a arte de viver a vida com paz.
Após conhecer estes príncipios, faz-se necessário agora, buscar uma estrutura de organização das atividades para o desenvolvimento da cultura da paz e da não-violência ativa.
Penso que cada educador deve criar suas próprias formas de educar para a paz, observando as necessidades e a realidade dos educandos, dos próprios educadores e da comunidade escolar como um todo.
Partindo da minha experiência como arte-educador para a cultura da paz, geralmente o processo é participativo e colaborativo, eu discuto com os educandos possíveis temáticas e conteúdos que sejam da necessidade do grupo, depois partimos para a criação de um projeto.
A partir daí você pode definir quais objetivos conceituais, procedimentais e atitudinais para poder orientar-se e atingir resultados no projeto juntamente com seus educandos, lembre-se o trabalho com a cultura da paz é responsabilidade de todos.
Nos projetos, os conteúdos e as atividades são desenvolvidos em sequências didáticas*, cada atividade deve ser trabalhada de acordo a faixa etária de desenvolvimento cognitivo e afetivo dos educandos, seguindo um roteiro de estratégias metodológicas flexíveis, que nos ajuda a orientar de uma forma mais dinâmica os trabalhos. As estrátegias metodológicas são as seguintes:
Harmonização: para meditar, relaxar e ampliar percepções através de visualizações criativas, para oxigenar e turbinar a mente através de exercícios de respiração, geralmente realizada antes e depois do início das aulas;
Sensibilização: para a motivação dos educandos com a temática e os conteúdos apresentados;
Diagnósticação: para avaliar o nível dos conhecimentos e das informações que os alunos trazem sobre as temáticas e ou conteúdos apresentados;
Problematização: para estimular a aprendizagem, a vontade de investigação e de pesquisa e para a resolução criativa dos desafios ou problemas apresentados;
Mediação: para a mediação dos conteúdos, para o diálogo recíproco entre o educador e os educandos, é a etapa do compartilhamento, das discussões, dos questionamentos, das argumentações para que os conteúdos e ou a temática pesquisada sejam aprofundadas;
Produção ou Arte em Ação: para a prática dos conteúdos que permitam uma aprendizagem mais producente e significativa (Laboratório de Pesquisa, Produção, Reflexão, Leitura, Interpretação e Contextualização)
Avaliação (Auto-Avaliação e Avaliação Processual e Contínua): para compreender o desenvolvimento qualitativo dos educandos, do educador e também de todo o processo, observando determinados critérios elaborados em conjunto com os educandos, como: organização, criatividade, estética, pontualidade, criticidade, participação, compromisso, etc.
São bastantes vastas e diversas as atividades e as temáticas que você pode desenvolver com seus educandos dentro ou fora do ambiente escolar. Posso sugerir algumas, elas partem sempre da utilização da arte como recurso mobilizador e mediador (artes cênicas, música, artes visuais e dança):
Paz Pessoal: jogos e atividades físicas, exercícios de respiração, visualização criativa, dança, meditação, criação de mandalas, atividades teatrais (dramatização), tempestade de idéias (brainstorming), leitura, criação e interpretação de imagens, criação de textos, poesias, cartas e cartões, ilustração de texto e músicas, espiritualização e individuação, necessidades básicas, projeto de vida, atividades sensoriais, sexualidade, consciência corporal, das emoções e dos pensamentos, higiene e limpeza, atividades para o desenvolvimento do autoconhecimento, da auto-estima e auto-imagem, exercício dos valores humanos absolutos e relativos, etc.
Paz Social: atividades e dinâmicas de grupo, campanhas socioculturais de solidariedade, criação de guias de convivência, produção de vídeos, fotonovelas, criação de músicas e jingles, leitura, reflexão e interpretação de leis e documentos sobre cidadania e direitos humanos, uso das mídias tecnológicas como reflexão e produção, jogos não competitivos e cooperativos, produção de jornais, cartazes e panfletos, identidade cultural, resolução criativa dos conflitos, preconceito e discriminação, tolerância, cidadania, democracia, politização, consumismo, atividades de comunicação, etc.
Paz Ambiental: atividades que estimulem o consumo consciente, proteção, preservação, conservação e cuidados com a natureza, reciclagem, prociclagem e reaproveitamento, seleção e coleta seletiva de lixo, dissolução da fantasia da separatividade, plantar árvores e plantas, simplicidade voluntária, passeio e contato direto com a natureza, etc.
Partindo do pressuposto da atividade colaborativa, como exercício da paz, você pode postar nos comentários mais sugestões de atividades e temáticas e experiências com a construção da cultura da paz na sua escola, em sua casa, no seu trabalho ou na rua. Fique a vontade...!
*As seqüências didáticas são um conjunto de atividades ligadas entre si, planejadas para ensinar um conteúdo, etapa por etapa.