A disciplina escolar é um conjunto de regras que devem ser obedecidas tanto pelos professores quanto pelos alunos para que o aprendizado escolar tenha êxito. Portanto, é uma qualidade de relacionamento humano entre o corpo docente e os alunos em uma sala de aula e, conseqüentemente, na escola.
Como em qualquer relacionamento humano, na disciplina é preciso levar em consideração as características de cada um dos envolvidos no caso: professor e aluno, além das características do ambiente.
O professor e essencial para a socialização comunitária e tem, basicamente, quatro funções:
1. PROFESSOR PROPRIAMENTE DITO. Para poder ensinar, é necessário saber o que se ensina. Isso se aprende no círculo profissional. Saber como ensinar: o professor precisa conseguir transmitir o que sabe. Pode ser um comunicador nato ou vir a desenvolver essa qualidade por meio da própria experiência.
2. COORDENADOR DO GRUPO DE ALUNOS. Esta função não é habitualmente ensinada no currículo, pois exige um conhecimento mínimo de dinâmica de grupo, bem como noções básicas de psicologia para manter a autoridade de coordenador. Sala de aula não é consultório; escola não é clínica. Portanto, na função de coordenador de alunos, o professor tem que identificar as dificuldades existentes na classe para poder dar um bom andamento à aula.
3. MEMBRO DO CORPO DOCENTE. Um professor pode ouvir a reclamação de um aluno sobre outro professor e fazer com que chegue ao envolvido para que este possa tomar alguma providência no sentido de responder adequadamente à reclamação. Seria falta de lealdade ficar sabotando os colegas perante os alunos. Os professores devem ajudar-se mutuamente, como fazem os estudantes. Se muitos alunos queixam-se de um único professor, é sinal de que algo está errado. A única forma de solucionar um problema é identificar o erro. Como todo o ser humano, o professor também pode estar errado. O fato de ser professor não é garantia de estar sempre certo.
4. EMPREGADO DE UMA INSTITUIÇÃO. Como todo empregado, o professor tem direitos e obrigações. Eventuais insatisfações ou desavenças empregatícias devem ser resolvidas por meio dos canais competentes. Não podem ( nem devem!) ser descarregadas nos alunos, que não têm a ver com o problema. Os alunos correm o risco de ser manipulados pelo professor em virtude da própria posição de poder que ele exerce na classe.
A maior força do professor, ao representar a instituição escolar, está em seu desempenho na sala de aula. Portanto, ele não deve simplesmente fazer o que bem entender, sobretudo perante as indisciplinas dos alunos. Numa escola em que cada professor atua como bem entende, haverá, como toda a certeza, discórdias dentro do corpo docente e os alunos saberão aproveitar-se dessas desavenças, jogando um professor contra outro.
Por isso é importante que os professores adotem um padrão básico de atitudes perante as indisciplinas
Mais comuns, como se todos vestissem o mesmo uniforme comportamental. Esse uniforme protege a individualidade do professor. Quando um aluno ultrapassa os limites, não está simplesmente desrespeitando um professor em particular, mas as normas da escola. Sobre esse tema, a propósito, sugiro a leitura do meu livro Ensinar Aprendendo.
O aluno também é peça-chave para disciplina escolar e o sucesso do aprendizado. Atualmente, a maior dificuldade que encontra para estudar é a falta de motivação. Estudar para quê? Para passar de ano? Para ganhar presente? Para ter sabedoria? Pra os pais não “pegarem no pé”? Entretanto, quando estão interessados em algum assunto em particular (computação, música, esportes, coleções etc...), são as pessoas mais animadas, empreendedoras e... disciplinadas.
O ensino fundamental e médio tende a ser aprovativo, o que estimula (no passado mais ainda) o estudo suficiente apenas para passar de ano, com conhecimentos, muitas vezes, descartáveis após a prova. Já o vestibular para a faculdade é um sistema competitivo e depende da sabedoria; portanto, a motivação para estudar é acumular saber, bem diferente de atingir uma média 5 para não repetir de ano.
No vestibular, o fator sorte é mais decisivo quanto menor for o conhecimento. Trata-se de um fator imponderável, que pode fazer “cair na prova” o que o vestibulando mais estudou e “não cair” justamente o que estudou. Portanto, quanto mais estudar, isto é, quanto mais conhecimento tiver, menos ele dependerá da sorte, afinal, mais preparado estará.
Os melhores alunos são os que acabam aprendendo mais, e os piores, menos. Em termos de sabedoria, quanto mais se sabe, mais se quer aprender. Em termos de ignorância, quanto menos se sabe, mais se pensa que não é preciso saber mais...
O ambiente também interfere na disciplina. Classes muito barulhentas, nas quais ninguém ouve ninguém; salas muito quentes, escuras, alagadas ou sem condições de acomodar todos os estudantes são locais pouco prováveis de conseguir uma boa disciplina.
No entanto, a condição ambiental mais prejudicial é o estado psicológico do grupo. Uma escola em crise, que esteja passando por greves e os conseqüentes conflitos entre grevistas e fura-greves, bem como brigas entre classe e professor, e aulas ministradas durante grandes eventos populares são situações que dificultam o aprendizado.
Um professor que trabalha numa instituição que sempre protege o aluno, o cliente, independentemente do fato de este estar ou não com a razão, não tem o respaldo da instituição quando precisa. Quem pode trabalhar bem nessas condições?
CARACTERÍSTICAS DE UMA CLASSE DE ALUNOS
O agrupamento de estudantes numa sala de aula apresenta algumas características importantes, tais como:
Apresenta alunos com idades cronológicas semelhantes, embora nem sempre o desenvolvimento emocional acompanhe a idade cronológica.
Estudantes de sexos diferentes, da mesma idade cronológica, têm desenvolvimentos emocionais distintos.
Cada aluno traz dentro de si sua própria dinâmica familiar, isto é, seus próprios valores (em relação a comportamento, disciplina, limites, autoridade etc.).
Cada um tem suas características psicológicas pessoais.
Alunos transferidos de outras escolas podem ter históricos escolares bem diferentes dos históricos de seus novos colegas.
Para muitos estudantes, o lema é: “A escola é boa, o que atrapalha são as aulas”. Esse lema é válido principalmente para os alunos “problemáticos”.
O professor é analisado por todos os alunos.
O professor pode ser um canhão, mas cada aluno é um revólver...
O que o professor faz em uma determinada classe rapidamente torna-se do conhecimento de todos os alunos, sobretudo por intermédio daqueles que desejam “fulminar” o tal professor.
Os “maus” alunos especializam-se na arte de “assassinar aulas”, ou seja, tirar o professor de sua função de dar matérias que caem em provas. É um vale-tudo: suscitar debates políticos e econômicos dentro da sala, levantar problemas psicológicos ou da administração da escola, jogar um professor contra outro, brincar de brigar entre os colegas...
Nem todos da classe são “inimigos” do professor. Os alunos saudáveis (chamemos assim), em geral, são a maioria. Só que estes não chamam a atenção exatamente por não dar trabalho aos professores. Entre esses bons alunos há sempre aqueles que têm um sentimento positivo em relação ao professor. Tais alunos podem funcionar como pontos de referência da aula. O relacionamento do professor com esses alunos funciona como fios invisíveis que sustentam um objetivo. Ás vezes acontece de o professor ser avisado, ao chegar à classe, por meio desses “fios invisíveis”, de que tem alguém passando mal ou aprontando alguma coisa. Não chega a se uma delação ou denúncia, mas um “recado entre amigos”.
Quanto maior for o número de “fios invisíveis” tecidos entre o professor e os alunos, maior será a integração dele com a classe. Não estou me referindo aos conhecidos “puxa-sacos”, aos bajuladores. Para estes, basta mudar o interesse que rapidamente trocam de “sacos a puxar”...
Para “tecer” esses “fios invisíveis”, o professor pode valer-se de, basicamente, três fatores estimulantes: 1. aspectos pessoais (simpatia, higiene pessoal, elegância, educação, costumes etc.); 2. capacidade de comunicação; 3. conhecimento da matéria.
Do lado dos alunos, os “fios invisíveis” podem ser “tecidos” com base no desejo de aprender, na facilidade de compreender e no fato de sentirem-se bem durante a aula.
APRENDER PARA QUÊ?
Para aprender, é preciso receber a informação e digeri-la em pedaços compreensíveis, a ser incorporados ao corpo do conhecimento já existente.
Aprender é alimentar a alma.
Interação é a palavra da moda. Ensinar é um dividir que soma, que enriquece professor e aluno. O abuso do poder pelo saber é medíocre, já que a ignorância pode ser transitória. A verdadeira sabedoria traz embutida em si a humildade. Ensinar passa a ser, assim, um gesto de amor.
PROFESSOR, O GRANDE COZINHEIRO
O PROFESSOR DEVE TER MUITA CRIATIVIDADE PARA TORNAR SUA AULA APETITOSA. Os temperos fundamentais são: alegria, bom humor, respeito humano e disciplina.
Haverá interesse do aluno pelo conteúdo do programa escolar sempre que houver uma correlação ente este e o dia-a-dia do estudante. O professor sábio estabelece tal correlação.
BOM HUMOR É IMPRESCINDÍVEL
O bom humor, o riso e a espontaneidade são ingredientes necessários à sensação de liberdade. O bom humor difere da ironia. Pessoas livres aprendem mais e melhor. O professor tem de entender que dentro da classe ele tem uma função específica; ele quase que interpreta um personagem.
A força da timidez está em considerá-la invencível. Na hora em que o tímido começa a quebrar uma de suas pontas, ela não resiste e começa a ruir. Basta o professor soltar-se um pouco e, quando menos esperar, já a terá superado.
O DOMÍNIO DA MOVIMENTAÇÃO CÊNICA
O professor precisa provocar captar a atenção dos alunos para o que ele está falando. O que a gente vê não esquece, o que nem sempre ocorre com o que lemos.
Os alunos aprendem muito mais por meio de imagens do que de símbolos.