quarta-feira, 4 de abril de 2012

PSICOSSOCIAL VIVE A PÁSCOA

A palavra PÁSCOA significa "passagem", tanto para os judeus quanto para os Cristãos.

No sentido Judaico, a Páscoa (Êxodo 12:18,19; 13:3-10) é a comemoração da saída do povo de Israel da escravidão do Egito. Começa no décimo quarto, à tarde- isto é, no princípio de décimo quinto dia de Abide ou Nisã, com a refeição sacrificial, quando um cordeiro ou um cabrito inteiro era assado e comido pelos membros duma família com ervas amargas e pães ázimos (sem fermento); nessa ocasião o chefe da família contava a história da redenção do Egito. Os sacrifícios significavam expiação e dedicação; as ervas amargas faziam lembrar da amargura da servidão egípcia; os pães ázimos simbolizavam a pureza (Lev.2:11).
Para os cristãos (católicos e protestantes) a Páscoa simboliza a morte vicária (substitutiva, ou seja, Jesus morreu em nosso lugar para nossa redenção) de Cristo, bem como a promessa de ressurreição e 2a vinda (parousia). Segundo a fonte da Internet (www.zog.com.br) "em 325 d.C., o Conselho de Nicea, composto por membros da Igreja católica, criou a Tabela eclesiástica, baseada na "Lua Eclesiástica", imaginária. Na verdade, o Dia da Páscoa, e o primeiro Domingo depois da Lua Cheia Eclesiástica que ocorre após 21 de março, dia do Equinócio, que é quando o sol passa por sobre a linha da Equador. A Quarta-feira de cinzas acontece 46 dias antes da Páscoa, portanto, a Terça-feira de Carnaval, último dia da festa pagã antes da quaresma." Portanto a celebração da Páscoa é móvel de ano para ano.
A Páscoa tem o sentido de ressurreição. Jesus disse que ele mesmo é a ressurreição e a vida (João 11:25). A ressurreição hoje é a possibilidade do operariado sair de seu flagelo social e ter uma condição digna de sobrevivência e quando as distribuições de riquezas são mais justas. Se nós pudéssemos reduzir a população do mundo inteiro a uma aldeia de 100 pessoas, mantendo as proporções de todos os povos existentes no mundo, esta aldeia seria composta desta forma: 57 asiáticas; 21 europeus; 14 americanos (América do Norte e Sul); 8 Africanos, 52 mulheres; 48 homens; 70 não seriam brancos; 30 seriam brancos; 70 não seriam cristãos, 30 seriam cristãos, 59% da riqueza no mundo seria possuída por 6 pessoas e todas elas seriam norte-americanas; 80 morariam em casas sem nenhuma condição de habitação, 50 sofreriam de desnutrição, 1 estaria para morrer, 1 estaria para nascer, 1 possuiria um computador, 1 teria concluído o curso superior. Para e pense sobre isto.

A Páscoa tem sentido de renovação. A Páscoa não é uma liturgia fúnebre, mas a Celebração da Vida e da Esperança Cristã. Jesus veio ao mundo para que tivéssemos vida e vida em abundância (João10:10), bem como vida eterna (João 3:16) "Se alguém está em Cristo, uma nova Criatura é, as coisas velhas já passaram e eis que tudo se fez novo" II Cor.5:15. Renovação hoje, significa condições mínimas de educação, saúde, trabalho e habitação.

Nossa conclusão é uma oração: "Ó Senhor, nosso Deus, dá-nos a graça de te desejar com todo o nosso coração; e que o nosso desejo nos leve a buscar-te e a encontrar-te; e que, encontrando-te, possamos amar-te. E que, amando-te, possamos odiar aqueles pecados de que nos redimistes." Santo Anselmo.


IDENTIDADE

Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando
o sexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

ETNOMATEMÁTICA

O prefixo etno é hoje aceito como algo muito amplo, referente ao contexto cultural e, portanto, inclui considerações como linguagem, jargão, códigos de comportamento, mitos e símbolos; matema é uma raíz difícil, que vai na direção de explicar, conhecer, de entender; tica sem dúvida vem de techne, que é a mesma raíz de arte e de técnica. Assim, etnomatemática é a arte ou técnica de explicar, de conhecer, de entender nos diversos contextos culturais. Ela procura compreender o saber/fazer matemático ao longo da história da humanidade, contextualizando em diferentes grupos de interesse, comunidades, povos e nações.
As práticas matemáticas de feirantes, comerciantes, borracheiros, cirurgiões cardíacos, vendedores de suco de frutas, bicheiros, indígenas, grupos africanos enquadram-se, por exemplo, no estudos e nas pesquisas da Etnomatemática.
A Matemática foi e é construída por todos os grupos sociais (e não apenas matemáticos) que desenvolvem habilidades para contar, localizar, medir, desenhar, representar, jogar e explicar em função de suas necessidades e interesses.
Valorizar esse saber matemático-cultural e aproximá-lo do saber escolar em que o aluno está inserido são de fundamental importância para o processo de ensino e aprendizagem. A etnomatemática dá grande contribuição a esse tipo de trabalho.
No estudo comparativo dos sistemas de numeração, por exemplo, os alunos poderão contatar a supremacia do sistema indo-arábico e concluir que a demora de sua adoção pelos europeus se deveu também ao preconceito contra os povos de tez mais escura e não cristãos. Outros exemplos poderão ser encontrados ao se pesquisar a produção de conhecimentos matemático em culturas como a chinesa, a maia e a romana.

Referência:
Dante, Luiz Roberto.Tudo é Matemática. ed. Ática. São Paulo/ 2003.

ETNOMATEMÁTICA: a diversidade na educação

O USO DA ETNOMATEMÁTICA COMO ESTRATÉGIA FACILITADORA NO PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM

Ana Brandão de Souza
Jonathan Cardozo
Vanessa Garcez
(licenciatura em Matemática – UEPA)
triofractal@gmail.com

As constantes mudanças científicas, tecnológicas e sócio-culturais, características do mundo moderno, exigem do professor o desenvolvimento de novas competências e habilidades, que funcionem como “chaves” para facilitar o processo ensino-aprendizagem. Na busca por essas habilidades, várias tendências vêm sendo desenvolvidas inclusive, na área de Educação Matemática, entre elas, a Etnomatemática que pressupõe facilitar o processo ensino-aprendizagem da matemática a partir do conhecimento que o aluno adquire no meio em que está inserido, ou seja, no seu ambiente cultural. A inserção desse conhecimento à sala de aula é a proposta deste artigo.

Palavras-chaves: etnomatemática; cultura; conhecimento matemático.

1. ETNOMATEMÁTICA – O CONCEITO

A etnomatemática parte do pressuposto de que o ensino de matemática deve levar em consideração a realidade sócio-cultural do aluno, o ambiente em que ele vive e o conhecimento matemático que ele traz de casa. Seu principal idealizador, Ubiratan D’ Ambrósio1 , em artigo para a Revista da Sociedade Brasileira de Matemática2, define a etnomatemática como sendo “a arte ou técnica ( techné→ tica ) de explicar, de entender, de se desempenhar na realidade (matema) dentro de um contexto cultural próprio (etno)” . A etnomatemática também é entendida como um programa, no sentido de pequisa, que tem como objetivo analisar como, ao longo da sua evolução, a espécie humana gerou, organizou e difundiu artes e técnicas, com a finalidade de entender, explicar, lidar com o ambiente natural, social e cultural, próximo ou distante, assumindo o seu direito e capacidade em transformá-lo.
Por “ etno “, deve-se entender, não apenas etnias, mas, num sentido mais amplo, os diversos grupos culturais, a saber: populações indígenas, grupos de trabalhadores ou artesãos, comunidades periféricas de ambientes urbanos, comunidades ribeirinhas, classes profissionais ou até mesmo, faixa-etária. Cada um desses grupos sociais, têm sua própria maneira de entender, explicar, lidar com o ambiente natural, social e cultural em que vive. Daí a necessidade de alternativas que facilitem o processo ensino-aprendizado de cada grupo.

2. UMA PROPOSTA ALTERNATIVA PARA A SALA DE AULA

Partindo do pressuposto de que cada indivíduo carrega consigo raízes culturais próprias, o momento de encontro dessas raízes, na sala de aula, tende à uma dinâmica muito complexa, que pode ser positiva ou negativa, considerando que inevitavelmente, durante esse processo ocorre aprimoramento, transformação ou substituição de raízes.
Consideramos positiva a aproximação entre culturais que resulta em um processo criativo, onde o indivíduo poderá sentir-se independente, fortalecendo suas raízes sem suprimir as raízes do outro.
O conhecimento matemático adquirido no meio cultural de cada um, deveria servir de ponte facilitadora para a introdução do conhecimento acadêmico. Porém, devido à supervalorização atribuída ao pensamento formal, pelo atual sistema de ensino, esse conhecimento acaba por não ser trabalhado em sala de aula, amputando, dessa forma, os valores socioculturais do aluno, criando assim uma relação de desconforto com a matemática. Para D’ Ambrósio, as aulas de matemática devem ter por base os conhecimentos matemáticos transportados de fora para dentro da escola. Este conhecimento deve ser desenvolvido a partir da própria experiência de vida do aluno.
Os professores precisam respeitar, entender e aceitar a cultura dos alunos, interpretar as realidades externas em termos matemáticos para associá-las a experiências curriculares.

2.1. MANKALA: UM JOGO DA CULTURA AFRICANA
Um dos aspectos mais relevantes da etnomatemática, é a compreensão sobre o respeito devido à cada grupo social e o resgate da cultura esquecida: O Mankala , constitui uma família de mais de 200 jogos africanos que simulam uma colheita. É um jogo de tabuleiro que permite, na escola, trabalhar com os valores civilizatórios africanos, as inteligências múltiplas e diferentes áreas do conhecimento.

2.2. A IMPORTÂNCIA DIDÁTICA DO JOGO:

O jogo ajuda o usuário no desenvolvimento de capacidades intelectuais, na estruturação do pensamento, na agilidade do raciocínio dedutivo, na resolução de problemas e servem de apoio à construção do conhecimento em diferentes áreas do currículo escolar.

2.3 MATERIAL NECESSÁRIO:

a) Sugestão para o tabuleiro: uma caixa de ovos de uma dúzia ou duas de seis ovos, que serão as duas fileiras de 6 covas; 2 potes vazios de iogurte, que serão o depósito das sementes;
b) 48 sementes ou material equivalente: vale fichas, tampas de garrafa pete, botões ou mesmo pedrinhas. O uso das sementes pode ser mais interessantes se o público alvo são crianças do campo, por exemplo.

2.4 COMO JOGAR:

a) Dois jogadores frente à frente, intermediados pelo tabuleiro, escolhem o lado em que querem jogar;
b) Um dos jogadores distribui as 48 sementes pelas casas, colocando 4 sementes em cada uma delas;
c) Aquele que inicia o jogo retira de uma das casas as 4 sementes e as distribui sucessivamente pelas casas vizinhas no sentido anti-horário. Se o caminho a percorrer passar pela sua própria mankala( depósito), uma semente deve ser depositada nela; se passar pela mankala do adversário, nenhuma semente deve ser depositada nesse recipiente.
d) Toda vez que a última semente cair na mankala do próprio jogador, este joga novamente; se a última semente cair na casa vazia do jogador, este ganha o direito de capturar todas as sementes do opositor que estiverem na casa defronte e depositar em sua própria mankala juntamente coma as sementes de sua última jogada.
e) O jogo termina quando:
e.1)Não é possível colocar sementes no campo do adversário: nesse caso, o jogador pega todas as sementes que estão nos dois campos e as coloca em seu depósito (mankala);
e.2) Restam tão poucas sementes que não é mais possível ocorrer capturas: neste caso as sementes que estão nas covas não ficam com ninguém; e.3)Vence o jogo quem tiver capturado mais sementes

terça-feira, 3 de abril de 2012

INGRATIDÃO


Ingratidão

“A maior ofensa que podemos fazer a um amigo é prestar-lhe um favor e o maior dos revides é a ingratidão”. Na época, não entendi. Posteriormente vi a profundeza e justeza daquele pensamento.

Existe uma grande diferença entre o favor e o amor.

Fazer algo por amor é fazê-lo livremente, de bom grado, sem nenhuma espera de retorno, seja consciente ou inconsciente. É também amor a ajuda que presto a alguém, combinando claramente o retorno esperado. Uma troca explicita, proporcional. É a reciprocidade combinada.

O favor, ao contrário, é fruto de uma certa esperteza. Faço algo por alguém, dizendo ser gratuito, mas posteriormente exijo reciprocidade, reconhecimento, gratidão. Só terá ingratos na vida quem se acostumou a prestar favores. A minha definição de ingratidão mostra o significado disso.

Chamamos de ingrato a pessoa que não se “vendeu” aos nossos favores. Ela recebeu o favor como se fosse amor e permaneceu livre, podendo nos dar o sim ou o não, conforme seu desejo, na época da cobrança.

Tornou-se comum nas relações um jogo que denomino o jogo da renúncia. Esse jogo consiste em a pessoa abrir mão das próprias coisas, do próprio tempo, das próprias necessidades em nome do amor ao outro e, mais tarde essa pessoa se sente frustrada, decepcionada quando o outro não abre mão por ela. Tal jogo foi confundido, durante muito tempo, como sendo a mais alta forma de amar.

“Amar é renunciar”. “Amar é sacrificar-se pelo outro”. Por isso mesmo, alguém falou, de maneira, irônica, que o casamento é feito de um dono, uma dona e dois escravos. Não estou falando da intenção. Muitas pessoas dizem que quando fizeram algo por outrem, não tinham a intenção de cobrar, que o fizeram espontaneamente e por generosidade.

Medimos o grau de renuncia pelo grau de descontentamento e mágoa que sentimos, quando a pessoa que foi por nós ajudada, nos deu um “não”.

A bondade só é virtude quando for verdadeira. Fazer algo nos sacrificando, por obrigação, sem uma vontade genuína de fazê-lo, por pena ou por medo de desagradar é a raiz de exigências futuras e da possível sensação de ingratidão.

O sentimento de agradecimento é bonito e devemos cultivá-lo. Esperá-lo obrigatoriamente do outro é que é o problema. É preferível negar algo que nos foi pedido do que fazer e me escravizar na espera do reconhecimento do outro.

...Não toleramos o “não” do outro porque não sabemos dar o “não”. Dois sentimentos negativos estão atrás dessa nossa incapacidade: a culpa e a pena. Nossa onipotência de pensar em resolver os problemas de todas as pessoas, a sensação de superioridade por estarmos ajudando não nos permitem a humildade de aceitar que somos limitados e que, por isso mesmo, não podemos ou não queremos ajudar alguém naquela época ou naquela circunstância. Isso também se aplica às outras pessoas, ainda que tenham sido ajudadas por nós. No fundo, há um temor de não sermos amados, de sermos rejeitados por aqueles a quem negamos um favor.


A bondade exagerada é uma forma de comprar o amor do outro, sob a forma de gratidão e de escravidão aos nossos desejos. Não há nenhuma moeda que compre o amor. Essa tentativa de sermos amados através dos nossos favores, explica a sensação de injustiçados, ofendidos e magoados quando os “ingratos” exercerem o seu direito sagrado de continuarem livres para o “sim” e para o “não”.

Antônio Roberto Soares

A VIDA NÃO É FEITA DE EXPECTATIVAS, É FEITA DE ESCOLHAS!


A Vida não é Feita de Expectativas, é Feita de Escolhas!

Expectativas são esperas ansiosas e produzem um efeito danoso em nossas vidas quando excedem os padrões da realidade. É da natureza humana gerar expectativas com relação às coisas, o problema é que nossa imaginação é muito fértil e nossos desejos excedem nossa compreensão da realidade. Nestas condições criamos expectativas com pouca ou nenhuma chance de acontecerem e caminhamos rumo à decepção e a frustração.

Achamos que os outros nos decepcionam quando, na verdade, na maioria das vezes fomos nós quem criamos expectativas irreais sobre eles e suas atitudes. A solução para essas questões que sempre causam sofrimento e desilusões passa pelas seguintes reflexões:

1ª) Precisamos compreender que nossas expectativas são formadas a partir de nossos desejos e fantasias e, não possuem, muitas vezes, nenhuma relação com a realidade.

2ª) Nossas expectativas estão ligadas à nossa imaginação e por isso podem assumir proporções muito difíceis de serem atendidas.

3ª) As expectativas são nossas, mas podem depender de ação de outras pessoas e acontecimentos para se concretizarem, portanto estamos esperando por algo sobre o qual não temos controle efetivo.

4ª) Expectativas estão associadas à imaginação, sentimentos, emoções e experiências anteriores.

5ª) Expectativas sofrem a ação da nossa ansiedade e dos outros aspectos psicológicos que compõe a nossa personalidade.

Assim, como em tudo na vida, também precisamos aprender a lidar com nossas expectativas e introduzir a razão como mediadora entre elas e a realidade.

Às vezes, você espera que alguém ligue para você e a pessoa não liga... Quanto maiores forem as expectativas de receber a ligação, maior será o sofrimento e a decepção de não a ter recebido. Não percebemos nitidamente, mas nos sentimos feridos, afinal a pessoa “devia” ter ligado e não ligou. Pronto. Esse “ferimento emocional”, que se originou em função de nossas expectativas não atendidas, será suficiente para que nossa imaginação agigante as consequências ao criar as “razões“ pelas quais a pessoa não ligou, tais como: ela não me dá a atenção que eu mereço; ela só me procura quando convém; ela deve estar se divertindo com outras pessoas; ela está me enganando; ela não tem por mim a mesma consideração e sentimento que eu tenho por ela, etc.

Ora, todas estas “razões” são meras suposições da nossa imaginação ampliadas pela ansiedade e por frustrações e comparações com situações anteriores.

A pessoa pode não ter ligado por razões concretas e justificáveis as quais poderíamos facilmente compreender em uma conversa franca com ela. Julgamos baseados em suposições, e suposições são apenas probabilidades manipuladas pela nossa imaginação.

Quanto maiores forem as suas expectativas diante de qualquer situação na vida, maiores serão suas chances de se decepcionar. Quando não estamos esperando nada, achamos tudo o que acontece maravilhoso. Quando esperamos pouco, o que acontece facilmente atende ou supera as nossas expectativas, mas quando esperamos muito...

Esperar muito é depositar nas mãos de outras pessoas e acontecimentos a responsabilidade de fazer seus desejos acontecerem. É uma perigosa ilusão.

Procure dividir os aspectos de sua vida em dois grandes grupos: as coisas que você espera que aconteçam e depende determinantemente de você e as coisas que você espera que aconteça, mas dependem muito mais de outras pessoas e acontecimentos que da sua ação. Observe que você só pode agir sobre as coisas que dependem determinantemente de você. Somente sobre elas você possui controle. As coisas que dependem de outras pessoas e acontecimentos estão fora do seu controle, você pode até influenciá-las de alguma maneira, mas não pode controlá-las.

Utilize a sabedoria para não gerar expectativas muito elevadas para as coisas que não dependem diretamente de você e de suas atitudes. Elas dependem de outras pessoas que não pensam como você pensa, não agirão como você agiria e não sentem as coisas exatamente como você sente.

Concentre-se em alterar as coisas que você pode e em buscar compreender as que estão nas mãos dos outros. Deixar a vida ser dirigida por nossas expectativas é como dirigir em alta velocidade de olhos vendados. Abra os olhos da razão, use o coração para amar a vida e as pessoas e a razão para conhecê-las, compreendê-las e aceitá-las.

Uma vida baseada em expectativas é irreal e muito perigosa. Faça as pazes com a realidade e aprenda a ajustar suas expectativas dentro de um padrão lúcido e flexível. Nem a vida nem as pessoas são como nós gostaríamos que fossem, são como são. Nem mesmo nós somos como gostaríamos de ser...

Um alerta importante: Antes de tentar se tornar quem você gostaria de ser, observe se suas expectativas com relação a si mesmo não estão equivocadas, talvez você esteja melhor assim...A vida é feita de escolhas, mas é impactada por nossas expectativas.

Carlos Hilsdorf

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A SOCIOMETRIA

O ser humano é essencialmente um ser relacional que existe e torna-se pessoa à medida que se relaciona consigo e com os outros. Ser é ser com o outro. Como toda interação humana baseia-se no estabelecimento de relações interpessoais, uma pessoa está sempre em relação, a partir das situações concretas dos seus encontros e desencontros na vida.

Para Buber (1974), o primordial quando se trata de relações humanas é o que está no “entre”, ou seja, o significado do inter-humano não será encontrado em qualquer um dos parceiros de uma relação, nem nos dois juntos, mas somente no diálogo entre eles. O que se passa no “entre” das relações são fenômenos intersubjetivos ontológicos.

O indivíduo está na sociedade que está no indivíduo. Tal interdependência pode ser compreendida a partir do estudos dos grupos.Quando um indivíduo começa a participar em um grupo traz consigo diferenças de percepção, opiniões e sentimentos em relação aos demais. Se as diferenças são aceites no grupo, a comunicação flui facilmente e as pessoas ouvem-se umas às outras e têm possibilidades de dar e receber feedback. Se as diferenças não são aceitas, a comunicação passa a fluir com distorções, as pessoas não dizem o que gostariam e não escutam umas às outras. (Rocha, 2003: 307)
As relações grupais são alternadas entre o equilíbrio e o desequilíbrio e nem sempre os elementos integrantes em um grupo conseguem ultrapassar as dificuldades como a competição, as relações de poder, a ordem/desordem, os conflitos e os ruídos que permeiam seu funcionamento. São nestes momentos, em especial, que podemos melhor observar as competências dos sujeitos para se relacionar.
À medida que as atividades e as interações prosseguem nas situações de grupo os sentimentos despertados podem ser diferentes dos esperados inicialmente e, inevitavelmente, influenciarão as interações e as próprias atividades. Fela Moscovici considera que sentimentos de atração provocarão aumento de interação e cooperação, repercutindo favoravelmente nas atividades. Sentimentos de rejeição tenderão a provocar diminuição das interações, afastamento e menor comunicação, repercutindo desfavoravelmente nas atividades (Moscovici, 1998: 34).
As competências relacionais estão inseridas no espaço das relações, ou seja, no “entre” das relações, visto que não pertencem única e exclusivamente ao indivíduo, mas também, ao coletivo, pelo fato de que ninguém é competente relacionalmente sozinho e a sociedade se organiza por meio de suas redes relacionais.
Por competências, podemos considerar o que disse Perrenoud (2002: 141-145) “há uma espécie de consenso tácito no que se refere à semântica da palavra competência: as pessoas é que são ou não competentes e toda tentativa de atribuição de competência a objetos ou artefatos parece insólita ou inadequada”. Desta forma, a pessoalidade é a primeira característica da idéia de competência. Outro elemento que a caracteriza, diz respeito ao âmbito no qual ela se exerce: “não existe uma competência sem a referência a um contexto no qual ela se materializa”. O terceiro elemento da competência é a mobilização ou “a capacidade de recorrer ao que se sabe para realizar o que se deseja, o que se projeta”.
Baseada em uma perspectiva de educação vista como um fenômeno humano assentado no relacionamento interpessoal e em uma visão integrada dos saberes, fatos e acontecimentos, acredito que compete à educação desenvolver a capacidade de construção e de adaptação à mudança, buscando sempre as duas vertentes constitutivas básicas do ser humano: a individualidade e a socialização, uma vez que é por meio destes processos que o ser humano desenvolve suas competências para se relacionar consigo e com os outros.
Relacionar implica escolher. O ato de escolher envolve uma gama de motivações. Para Moreno (1992: 720) as escolhas são fatos fundamentais em todas as relações humanas. Elas são de primeira ordem existencial e não exigem qualquer justificação especial, desde que sejam espontâneas e verdadeiras para quem escolhe. Assim, quando as pessoas levam em conta suas redes sociais, descobrem com quem e com que frequência preferem compartilhar suas atividades.
O fato de as pessoas fazerem escolhas nas suas relações interpessoais e se autorizarem a explicitar essas escolhas possibilitou que Jacob Levy Moreno, em meados de 1930, vislumbrasse um meio para melhor compreensão das relações sociais e dos seus mecanismos psicológicos subjacentes, que ele chamou de Sociometria.
A Sociometria interessa-se pela compreensão das relações sociais (redes) existentes nos grupos. Estas redes relacionais são “teares” onde inumeráveis fios tecem-se nas dimensões do tempo e do espaço mas não são facilmente vislumbradas, dado que se estabelecem em duas dimensões: uma visível, aparente e outra invisível, subjacente.
Essas relações ou vínculos são expressos a partir de sinais de escolha, rejeição ou neutralidade (fatores qualitativos e emocionais) emitidos por seus membros. Estes sinais possibilitam revelar uma série de eventos que permitem compreender a estrutura psicológica de um grupo e as formações que se estabelecem entre seus membros.
Os objetivos da Sociometria incluem facilitar a mudança construtiva de indivíduos e grupos; aumentar a consciência, a empatia, a reciprocidade e interações sociais; explorar padrões de escolha social e reduzir os conflitos; esclarecer os papéis sociais, as relações interpessoais e seus valores; revelar dinâmicas de grupo ostensivas e secretas e ainda aumentar a coesão do grupo.[1]
Pierre Parlebas (1992: 38-41) reconhece três tendências da Sociometria:
1. Uma metodologia de pesquisa experimental: através de um método disciplinado e rigoroso que busca explorar a estrutura sócio-afetiva dos grupos, os relacionamentos interpessoais e a dinâmica relacional.
2. Um instrumento de intervenção psico-sociológica (ou pedagógica, ou terapêutica) que possibilita que os indivíduos participem diretamente nas decisões que afetarão sua vida em grupo.
3. Um conjunto de conhecimentos ligados à dinâmica de grupos e a variados processos sociais que emana do estudo das relações entre o individual e o sistema social.
Blatner e Blatner (1996) consideram que a Sociometria apela às capacidades de iniciativa de cada indivíduo, valoriza os sentimentos e a subjetividade, favorece a expressão desses sentimentos para com os outros, implica as pessoas no seu contexto de vida real, convertendo-as em investigadoras de suas próprias situações.
A Sociometria pode promover uma mudança positiva e determinar a extensão dessa mudança bem como a avaliação do comportamento dentro dos grupos. Ela pode ser um poderoso instrumento para reduzir conflitos e melhorar a comunicação, porque permite ao grupo se ver de forma objetiva e analisar a sua própria dinâmica. Com a Sociometria é possível promover uma investigação sobre a organização e a evolução dos indivíduos e dos grupos, ela é “uma filosofia de pesquisa coletiva” (Blatner & Blatner, 1996: 143).
Para que um grupo possa ser receptivo à Sociometria é preciso que esteja familiarizado com métodos de grupo em abordagens de resolução de conflitos. A resolução de conflitos exige espontaneidade, vontade de mudar, flexibilidade existencial e coragem para se deparar com os próprios conflitos e os conflitosinterpessoais.
A análise sociométrica possibilita que se detectem as redes relacionais, convertendo o qualitativo em quantitativo e permitindo que os dados sejam tabulados e transformados em gráficos que permitirão visualizar tanto a situação individual de cada elemento no grupo, como as relações positivas e negativas, as justificativas para as eleições, os pontos de conflitos e muitos outros eventos sociométricos relativos à necessidade dos grupos e do interesse dos sociometristas, a fim de que possibilitem a otimização relacional do grupo, com o auxílio de profissionais competentes envolvidos no e com o grupo.
A sociometria também confirma a existência de padrões característicos da organização dos grupos, suas expressões e configurações próprias. Ela não é somente um instrumento de diagnóstico individual. Os resultados das análises podem ser examinados em três níveis: os indivíduos, as relações interpessoais e as estruturas dos grupos.
Moreno (1972: 219) advertiu para a necessidade de precauções metodológicas durante a análise sociométrica dentro de um grupo. A primeira, diz respeito a implicação dos participantes nas decisões. A segunda, diz respeito ao critério utilizado na aplicação, que deve ser dirigido para um projeto de ação real, concreta e de importância para o momento do grupo. A terceira diz que as instruções oferecidas devem ser suficientes e claras para assim liberar a espontaneidade dos participantes durante o lançamento das suas respostas.
Moreno basicamente propôs dois métodos sociométricos para análise das relações interpessoais, a análise objetiva e a perceptual.
A Análise Sociométrica Objetiva consiste em perguntar a cada indivíduo dentro de um grupo “quem ele escolheria para realizar uma determinada tarefa”. Obtém-se com ela uma perspectiva de conjunto das estruturas do grupo tal como aparecem aos olhos de seus membros, possibilitando averiguar como cada indivíduo no grupo escolhe e é escolhido.
A Análise Sociométrica Perceptual, denominada por “auto-avaliação sociométrica” ou a percepção que cada indivíduo tem sobre sua posição no grupo, consiste em perguntar a cada indivíduo “por quem pensa/sente que seria escolhido para realizar uma determinada tarefa”, indicando como acredita ser escolhido e percebido pelos demais elementos do grupo.
A análise perceptual está baseada na Teoria do Tele. O conceito de Tele pode ser compreendido como um indicador do fluir da dinâmica de um grupo, implicando necessariamente em comunicação: se comunicar implica estar em relação, comunicar é igual a relacionar. Assim, Tele é a faculdade humana de comunicar afetos à distância.
O processo fundamental de Tele é a reciprocidade. Como fenômeno da interação, a Tele pode ser considerada como fator intrapsíquico, proporcionando um potencial télico para o indivíduo manter contatos e vínculos télicos e, como fator relacional que determina a qualidade do vínculo entre duas pessoas. A Tele determina a clareza de um vínculo e tudo o que interfere nessa clareza é denominado por Moreno de transferência ou patologia do Tele.
A análise perceptual permite-nos compreender a capacidade de perceber de uma pessoa e evidenciar o nível em que o sujeito percebe de forma objetiva o que ocorre nas situações e o que se passa em relação às escolhas das outras pessoas. Kaufman (1992: 69) disse que tão importante quanto escolher e ser escolhido é ter a possibilidade de perceber corretamente a forma pelo qual se é escolhido pelos companheiros.
O conjunto das preferências recíprocas constitui a trama da estrutura sociométrica do grupo e, quando estão representadas graficamente por meio de sociogramas, aparece o que Moreno designa por redes de comunicação, isto é, as vias pelas quais passam todos os fenômenos psicossociais do grupo.
A Sociometria, como outras abordagens, não se limitou às idéias primeiras de seu criador. Após lançar a Sociometria ao mundo, Moreno (1972) não pôde controlar seus significados e aplicações, indicando que as Técnicas Sociométricas foram melhor compreendidas do que a Filosofia que as continha.
Moreno foi um homem à frente do seu tempo, suas propostas sociométricas, entre outras, podem hoje ser revisitadas e reconsideradas à luz de novas possibilidades, visto que continuam atuais e pertinentes ao contexto da modernidade. Por exemplo, no estudo das redes sociais, visto que compreender essas redes hoje é indiscutível. Assim, a proposta Sociométrica Moreniana precisa ser contextualizada ao momento em que “o presente está cada vez mais curto e o futuro está cada vez mais próximo” (Vergara & Viera, 2005: 108), representando um grande desafio ao educador.

Referências:
BLATNER, Adam & BLATNER, Allee (1996). Uma visão global do Psicodrama: fundamentos históricos, teóricos e práticos. São Paulo: Ágora.
BUBER, M. (1974). Eu e tu. São Paulo: Centauro.
KAUFMAN, A. Teatro Pedagógico – bastidores da iniciação médica. São Paulo:Ágora, 1992. 143p.
MORENO, Jacob Levy (1972). Fundamentos de la Sociometría. Buenos Aires: Paidós.
MORENO, Jacob Levy (1992). Quem sobreviverá? Fundamentos da Sociometria, Psicoterapia de Grupo e Sociodrama. Goiânia: Dimensão. Volumes I, II e III.
MOSCOVICI, Fela. (1998) Desenvolvimento interpessoal. Rio de Janeiro: José Olympio.
PARLEBAS, P. (1992). Sociométrie, réseaux et communication. Paris : Presses Universitaires de France.
PERRENOUD, P. & THURLER, M. G. (2002). As competências para ensinar no século XXI. Porto Alegre: Artmed.
ROCHA, F. E. C. et al. (2003). Mapeamento das relações interpessoais em três assentamentos de reforma agrária de Unaí, MG . In Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v. 20, n. 2, p. 305-323, mai/ago.
VERGARA, S; VIEIRA, Marcelo. (2005). Sobre a dimensão do tempo-espaço na análise organizacional. In Revista de Administração Contemporânea. 9, 2, 103-119.
Texto originalmente publicado em MACUCH, R. (2010). As dinâmicas relacionais na escola secundária e o desenvolvimento de competências relacionais em jovens . Tese de Doutoramento em Educação. Universidade do Porto, Portugal.