Humberto Maturana, cientista e biólogo chileno que pensou além da teoria da evolução de Darwin, fala-nos que não é o mais forte que sobrevive, mas o que consegue interagir com o meio e com seus semelhantes com maior propriedade. Para ele, viver é estabelecer vínculos de cooperação.
A Biologia do Amor de Maturana concebe algumas máximas muito elucidativas sobre nossa evolução como seres humanos, dentre elas, a de que o futuro da humanidade não são as crianças, mas os adultos que cuidam das crianças, pois, exercitando o amar e o cuidar, reaprendemos a viver todos os dias, integrando-nos ao ambiente e respondendo a ele. Os adultos respondem constantemente ao condicionamento do meio, ao mesmo tempo em que interagem através da linguagem amorosa.
A relação materno-infantil, segundo a concepção de Maturana, é baseada na confiança que liberta, que está assentada na intimidade, na afetividade e no amor. Amar é ter capacidade de dar espaço ao outro, para que cresça e possa se desenvolver em plenitude.
A beleza do pensamento e da pesquisa de Maturana está em não aceitar o amor como algo dado, mas em acreditar na conjugação do verbo amar. Amar é o principal remédio para o sofrimento, já que 90% do sofrimento humano existe, em consequência do desamor.
Usando o embasamento teórico de Maturana, podemos refletir sobre os rumos da família e o papel que ela sempre teve na evolução e, certamente, continuará tendo para a sobrevivência da humanidade.
Somos seres frágeis por natureza e não nascemos sabendo amar, mas aprendemos a amar através da vida, exercendo os papéis que nos são dados, dentro da organização familiar. A família é o primeiro e o principal meio onde aprendemos a respeitar o outro e a colaborar para seu desenvolvimento.
A relação mãe-filho é algo tão determinante a ponto de conseguir que um bebê de dois anos saiba falar uma língua, o que é um aprendizado incapaz de se repetir no resto da vida do indivíduo, com tal intensidade, e é o exercício do amor que faz esse trabalho. É aquele diálogo balbuciante entre a mãe e o bebê que opera essa enorme proeza.
As tentativas contemporâneas no sentido de entender as dificuldades que as crianças estão apresentando na escola, têm, em grande parte, explicação aí, nesta relação entre a mãe e o bebê. Para Winnicott “não existe saúde para o ser humano que não tenha sido iniciado suficientemente bem pela mãe”, e ele é claro ao dizer que essa mãe não é necessariamente a mãe biológica, mas alguém que ame a criança e cuide dela suficientemente bem.
Pode-se concluir que, enquanto tivermos capacidade de amar, estaremos sendo o futuro da humanidade, pois estaremos exercendo uma capacidade que, essa sim, nos foi dada: a capacidade de cuidar dos que consideramos ser constituintes de nós mesmos. Se o meu outro não se desenvolve, eu também não consigo me desenvolver em plenitude, concepção que me torna capacitado a defender o meio em que vivo, me integrar a ele, para que a minha espécie sobreviva.
O meio ambiente em que tudo acontece para o bem ou para o mal é a família, onde, segundo Maturana, se dá a educação amorosa, capaz de produzir seres evoluídos que cuidarão dos seus próprios filhos para que sejam capazes de amar; que terão seus próprios filhos capazes de amar; que terão seus próprios filhos capazes de amar…
E assim, a família continua sendo um lugar privilegiado para a construção do Amor, agora sim um substantivo, tratado até então como um verbo, ou melhor, como uma trajetória e uma linda possibilidade.
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