terça-feira, 6 de setembro de 2011

LIDERANÇA E COMPETÊNCIA NAS ORGANIZAÇÕES EDUCACIONAIS

Por Francisco Gomes de Matos para o RH.com.br

Ao examinar a escola, sob o foco da educação, é imprescindível destacar-se algumas diretrizes básicas:

1. A escola é um centro de educação. O ensino é um meio e um recurso educacional.
É comum a distorção em querer identificar Educação com escolaridade e ensino, numa linha formal, racional, mecanicista, em que alfabetizar, instruir e profissionalizar tornam-se mais relevantes que incorporar valores.

2. A escola que pensa formar, deforma. Seu conceito é dinâmico e não estático.
A função da escola é desenvolver o potencial de liderança que existe em todo o ser humano. Não cabe à escola ser uma forma, mas uma alavanca. Para tanto, a escola deve tornar-se uma Comunidade Vivencial de Aprendizagem e Liderança, explicitando o conceito de que Ser Líder é Ser Líder de Líderes - todos têm condições de exercer influência na construção do bem coletivo - dirigentes, professores, orientadores, auxiliares, alunos e pais. A integração sistêmica desses personagens no contexto pedagógico-organizacional é relevante à sinergia e aos resultados.

O grande problema das organizações - e o da escola - é a relação fragmentada do poder. No caso da organização escolar, as lideranças dispersas em ilhas formam um arquipélago organizacional, onde cada um cumpre burocraticamente seu papel.

Na linha de cultura corporativa, são os valores consensuais - aceitos por todos como verdades comuns - que integram efetivamente lideranças e liderados e não tecnologias educacionais, que apenas instrumentam a ação pedagógica.

Aquela professorinha, semi-alfabetizada, em rincão pobre e afastado da metrópole, que reúne crianças ao chão em torno de uma lousa improvisada, sob a árvore, certamente realiza um ensino precário, mas, nas circunstâncias, uma ótima educação inicial. Transmite valores, muito mais que letras e números. A escola é um agente transformador, na linha de expansão do Ser e do Saber.

3. Na escola o aluno aprende a pensar. Essa a sua função essencial: desenvolver a inteligência reflexiva.
A escola é um Centro de Desenvolvimento de Pensadores. Em recente debate, na televisão, assistimos educadores tentando definir a concepção de "Escola Ideal", focando-a na linha de métodos e tecnologias de ensino, como quem tem apenas por missão "entregar uma mercadoria: o conhecimento".

No nosso entendimento, a Escola Ideal:
- Desenvolve Pensadores - com visão crítica de mundo e da realidade, distante e próxima.
- Desenvolve a Cultura da Integração - cria as condições psicossociais e organizacionais para a intercomunicação e sinergia de todos os envolvidos no processo educacional.
- Desenvolve o Amor - a solidariedade como base do relacionamento e da convivência grupal. Não há educação sem amor, vivenciado como princípio da ordem.
- Desenvolve a Felicidade - o sentido de realização pessoal na contribuição à realização social.
- Desenvolve o perfil do estrategista/renovador - a visão construtiva e transformadora da sociedade.
- Desenvolve o Empreendedor - as habilidades em transformar ideias em realizações criativas.
- Em síntese, significa desenvolver líderes.

Muitos dirigentes escolares imaginam e agem por uma premissa inconsciente de que a escola seria uma maravilha, caso não tivesse nem professor, nem aluno. Abominam questionamentos incômodos.

Mas, pensar é questionar.
Pensar é analisar criticamente uma situação e decidir.
Portanto, pensar é educar para a liberdade e a responsabilidade, pois é a capacidade de decidir que define a maturidade.
A escola é isso: um centro experimental do pensamento em busca à maturidade.


Identificamos como pontos fortes no âmbito escolar:


1 - Disponibilidade de espaço e tempo para ouvir alunos e professores - sistema de portas abertas. E que os professores, principalmente, aprendam a ouvir os alunos.

2 - Clima de receptividade e compreensão entre dirigentes, técnicos, professores, auxiliares e alunos, desenvolvendo o sentimento e a convicção de que constroem juntos uma nova realidade.

3 - Efetivo envolvimento dos alunos em atividades extracurriculares relevantes - aprende-se, muitas vezes, mais educação nos corredores do que nas salas de aula.

4 - Possibilidades dos professores intercambiarem experiências, evitando-se as situações típicas de isolamento: cada professor na "sua", mal se conhecem.

5 - Transformação da sala de aula em ambiente prazeroso. A sala de aula é um centro de convergência educacional: antropológico, psicológico, assistencial e recreativo. Nada a ver com indisciplina, desrespeito, confusão. Uma relação respeitosa é fruto da confiança mútua, da autoridade aceita e não imposta.

6 - A relação professor/aluno implica estabelecer "contratos pedagógicos" com alunos tidos como "indisciplinados", envolvendo-os em tarefas específicas de interesse comum ao grupo - pesquisas, serviços, compromissos.

Tais práticas previnem o preconceito, que leva muitas escolas e professores a desprezar o "aluno-problema". É vital corrigir a cultura dividida: de um lado o professor sacrificado, do outro o aluno rebelde. É uma guerra. Quando as expectativas são negativas, só haverá negatividades como respostas.

O professor é o agente educacional básico, pois é ele quem interage com o aluno quase o tempo todo. Por paradoxo, o magistério, em geral, não recebe a consideração merecida e, por frustração, reage inconscientemente, adotando atitudes incompatíveis às suas funções.

Entre essas é marcante o uso incorreto do poder, em que se posiciona como detentor absoluto do conhecimento, exercendo-o com autoritarismo. Nesse sentido, torna-se um disciplinador. Quer ser ouvido, não ouvir.

7 -
Ensino dinâmico é participativo, devendo superar o contraste frequente entre a vida externa intensa do aluno, cheia de estímulos - televisão, internet - e a monotonia do ambiente escolar.

8 - Todavia, mais importante - mais, mesmo! - do que o computador e o vídeo na sala de aula é a situação relacional, motivadora, entre professor e alunos e estes entre si. Isso acontece com projetos comuns e de estímulo à participação criativa.

Manifestação entusiástica de um aluno: "Tivemos hoje uma ótima aula de matemática: discutimos futebol". A relação amistosa cria ambiente motivador à aprendizagem, mesmo para as questões numéricas.

9 -
Preparação de líderes para atividades comunitárias, internas e externas, com a prática do voluntariado.

10 - É de se lamentar o inexplicável declínio do escotismo e do bandeirantismo - não substituídos - que foram verdadeiras escolas de cidadania e solidariedade. É imprescindível pensar em atividades sucedâneas, adaptadas ao nosso tempo.

11 - Convicção, pelo aluno, de que faz parte viva da comunidade escolar, onde sua presença é considerada e seus feitos pessoais são reconhecidos - o bom desempenho, o seu aniversário, o torneio de futebol ou de tênis que ganhou, a participação numa obra meritória, a poesia ou conto que produziu.

12 - O item mais importante: - que dirigentes, técnicos, professores, alunos tenham um espaço de reflexão - o que denominamos em nossos trabalhos de consultoria como "Comitê Estratégico", onde possam construir e exercitar pensamento, verdades e vontades comuns na linha de uma efetiva integração estratégica.

Não se pode pensar numa escola - de qualquer nível - sem Planejamento Educacional Estratégico, elaborado de maneira participativa e sinérgica.

Conclusões

As escolas não são máquinas de ensino. O papel de liderança do professor é fundamental para reverter a situação mecanicista que ainda predomina em nossas escolas. Mas para isso é necessária mudança na cultura organizacional, para criar clima motivador à participação e à criatividade.

Em Berthold Brecht , "Galileu, Galilei", há a exclamação: "Veja, algo difícil de entender: - um professor que quer aprender".
Mas, estou convencido de que os professores são mais vítimas que atores de uma cultura utilitarista.

É urgente redescobrir ou reinventar a escola que educa e integra. Não aquela "preparatória de vestibular" ou de "especialistas tecnocráticos e individualistas" que estimula a "competitividade predatória" e o "vencer-vencer", frustrante e arrasador, pois antipedagógico.

Escolas são organizações sócio-educacionais, não fábricas de individualismos. A boa escola não é a que proporciona tão somente o ensino de habilidades para o mercado, mas a que torna essas qualificações expressão e consequência de uma forte Motivação à Vida.

O aluno não deve ser induzido a estudar por obrigação, pressionado ao rendimento compulsivo, do qual resulta o efeito cumulativo de informações e pouco conhecimento efetivo e quase nula sabedoria no aplicar.

O aluno compulsivo, estimulado pela escola desvirtuadora da autêntica aprendizagem, torna-se depositário de informações, não do saber.

Henry Ford, em seu livro "Minha Vida, Minha Obra", conta a frustração do indiano ao voltar à sua pátria, depois de concluído seus estudos na Inglaterra: - "cursei as melhores universidades, investi muito em minha preparação e agora estou aqui, de mãos vazias, sem saber o que fazer pelo meu povo".

Um belo exemplo do ensino que forma o profissional e não o pensador estratégico. A educação desenvolve a pessoa para a vida, para a sociedade e para o trabalho.

A competência da escola firma-se na visão e ação estratégica com foco na plena valorização da pessoa humana, considerada em todo o seu universo relacional: professores, orientadores, família, trabalho, comunidade.

A incompetência camuflada, em exteriorizações burocráticas de poder e de intitulações acadêmicas formais, é fonte de injustiças e infelicidade. Só a competência, aliada à liderança e à motivação é construtiva, pois gera sinergia, produtividade e melhores condições de vida.

Nesse sentido, desenvolvemos regularmente consultoria de cultura, liderança e estratégia através dos seguintes instrumentos:

- Constituição do Comitê Estratégico, reunindo as lideranças para pensar e repensar estrategicamente a escola.

- Realização da Oficina de Liderança, para preparar os líderes para o exercício do pensamento estratégico, na concepção do Líder como Líder de Líderes e treinar suas habilidades específicas.

- Realização de pesquisa de valores e de clima motivacional, para detectar indicadores de desintegração e de insatisfações.

- Realização periódica do Fórum de Reflexão Estratégica para o levantamento e a validação de diagnósticos e das linhas de ação estratégicas à base dos instrumentos "Balanço Situacional" e "Mapa de Formulação da Estratégia".

- Elaboração participativa do Planejamento Estratégico.

O Planejamento Estratégico da escola, realizado a varias mãos, é um excelente fator de integração, além de imprescindível diretriz para direcionar ações a objetivos e resultados.

Uma escola competente integra lideranças, competências e motivações. Cria uma cultura de participação e criatividade. Está aberta à comunidade, a intercâmbios enriquecedores, às vivências de situações-desafio. É aquela escola "risonha e franca", de que fala o poeta. E põe muita poesia nisso, pois o sonho e a beleza são fundamentais.

Uma escola que sonha, que pensa, que é feliz completa-se e se reabastece na espiritualidade.
- Escola espiritualizada é a que vê no aluno, mais do que o fenômeno ensino/aprendizagem, o ser pleno.

- Plenitude do ser humano está em integrar quatro pólos existenciais simultâneos: espírito, amor, trabalho e lazer.

Ser transcendente, incorporar valores, dar dimensão superior e estratégica às suas ações, é parte essencial da função escolar. O homem não é máquina, é eterno. Não estamos falando de religiosidade, mas de espírito, de uma escola com alma.

E ao se descobrir como tal, amplia-se sua responsabilidade, mas sua missão torna-se leve, por sua transparência. O foco, clarificado em objetivos consensuais leva todos a se empenharem na direção certa.

São valores superiores, transcendentes, que mobilizam espírito, alma, vontade, cérebros e braços à ação solidária, como garantia de perpetuidade de qualquer tipo de organização.

É preciso: Pessoas em Renovação, numa Escola em Renovação Contínua.

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