segunda-feira, 12 de março de 2012

PANÓPTICO

Como definir o momento em que vivemos? Seria a pós - modernidade a condenação do indivíduo? Contra o que lutamos? Quais projetos de sociedade seriam implantados caso, o modelo em que vivemos, fosse destruído?
Algumas dessas perguntas, podem ser esclarecidas e não respondidas, tendo como suporte a compreensão do Panóptico.
Uma sociedade onde o poder é exercido, de forma que ninguém consegue identificar os seus executores. Cria-se um controle psicológico em que os indivíduos se auto-controlam, se fiscalizam.
O primeiro a conceber essa idéia, foi o filósofo inglês Jeremy Bentham.
O projeto era para ser uma prisão modelo, para a reforma dos encarcerados. Mas, por vontade expressado do autor, foi também um plano para todas as instituições educacionais, de assistência e de trabalho, o esboço de um sociedade racional. O projeto, era de 1789, o mesmo ano em que a burguesia tornava-se a classe social dominante no mundo ocidental.
Michel Foucalt ao estudar a sociedade disciplinar, constata que a sua singularidade reside na existência do desvio diante da norma. E assim para "normalizar" o sujeito moderno, foram desenvolvidos mecanismos e dispositivos de vigilância, capazes de interiorizar a culpa e causar remorsos pelos seus atos.
Para Jeremy Bentham dominar era distribuir os corpos em difersificadas superfícies (prisões, manicômios, escolas, fábricas).
O Panóptico era um edifício em forma de anel, no meio do qual havia um pátio com uma torre no centro. O anel dividia-se em pequenas celas que davam tanto para o interior quanto para o exterior. Em cada uma dessas pequenas celas, havia, segundo o objetivo da instituição, uma criança aprendendo a escrever, um operário a trabalhar, um prisioneiro a ser corrigido, um louco tentando corrigir sua loucura, e na torre, havia um vigilante.

Como cada cela dava ao mesmo tempo para o interior e para o exterior, o olhar do vigilante podia atravessar toda a cela, não havia nenhum ponto de sombra e, por conseguinte, tudo o que o indivíduo fazia estava exposto ao olhar de um vigilante que observa através de persianas, de pequenas aberturas de modo a poder ver tudo sem que ninguém ao contrário pudesse vê-lo.
O panoptismo corresponde à observação total, é a tomada integral por parte do poder disciplinador da vida de um indivíduo. Ele é vigiado durante todo tempo, sem que veja o seu observador, nem que saiba em que momento está a ser vigiado. Ai está a finalidade do Panóptico.
O Panóptico organiza espaços que permitem ver, sem ser vistos, portanto, uma garantia de ordem. Assim, a vigilância torna-se permanente nos seus efeitos, mesmo que não fosse na sua ação. Mais importante do que vigiar o prisioneiro o tempo inteiro, era que o mesmo se soubesse vigiado. Logo, não era finalidade do Panóptico fazer com que as pessoas fossem punidas, mas que não tivessem a oportunidade para cometer o mal, pois sentiriam-se mergulhadas, imersas num campo de visibilidade.
Em suma, o Panóptico desfaz a necessidade de combater a violência física com outra violência fisica combatendo-a antes, com mecanismos de ordem psicológica.




A essência do Panóptico reside na centralidade da situação de inspeção, ou na construção, sem dúvida ficcional de uma espécie do "inspetor central", onipotente, onipresente e onisciente.
"O Panóptico (...) deve ser compreendido como um modelo generalizável de funcionamento, uma maneira de definir as relações de poder com a vida cotidiana dos homens. Bentham sem dúvida o apresenta como uma instituição particular, bem fechada em si mesma. Muitas vezes fez dele uma utopia do encarceramente perfeito." Michel Foucault
Para Bentham, qualquer punição deve ser encarada antes de tudo como espetáculo, importa menos o seu efeito sobre quem é castigado, do que as impressões que recebam todos aqueles que vêem o castigo ou que dele são informados.
Na sua prisão panóptica, ocasionalmente se escutavam gritos horríveis, só que não de prisioneiros, mas de pessoas contratadas exclusivamente para este propósito.
A punição aparentemente fictícia, produziria um bem para todos - a ordem, a disciplina - ao mesmo tempo que não produzia nenhum mal, exatamente porque o "mal" produzido teria sido forjado.

Todo Panóptico, na verdade, é estruturado como uma ficção, é precisamente a aparente onipresença do inspetor que sustenta a perfeita disciplina, controlando os movimentos e transgressão entre os internos. Entretando, como a onipresença não pode ser um atributo humano, resta forjá-la, simulá-la, quer por rondas aleatórias, quer pela arquitetura do lugar, que permite a cada um dentro das celas ser facilmente visto, ao mesmo tempo em que dificilmente vê quem VÊ.
Em última análise, o inspetor perfeito, é aquele que nunca aparece, mas que pode aparecer em qualquer instante. O inspetor perfeito é, enfim, uma voz, um olho, um ofício carimbado, uma sombra indistinta no fundo do corredor. O inspetor torna-se então, uma espécie de fantasma.
"O Panóptico (...) permite aperfeiçoar o exercício do poder. E isto de várias maneiras; porque pode reduzir o número dos que o exercem, ao mesmo tempo que multiplica o número daqueles sobre os quais é exercido." Michel Foucault
As instituições panópticas são leves e fáceis de manipular, utilizam princípios simples de correção e adestramento. É uma espécie de campo experimental de poder, assegura a sua economia, a sua eficácia e o seu funcionamento.
A base desta arquitetura institucional é o exame contínuo, (prova, teste), para controlar as causas dos desvios. O sujeito torna-se culpado (ou "burro", ou louco, ou doente), até provar (exame) o contrário. Em todo os dispositivos, o exame então, tem de ser altamente ritualizado.
"O exame combina as técnicas da hierarquia que vigia com as da sanção que normatiza. É um controle, uma vigilância que permite qualificar, classificar e punir, estabelece sobre os indivíduos uma visibilidade através da qual eles são diferenciados e sancionados. É por isso que, em todos os dispositivos de disciplina, o exame é altamente ritualizado. Nele vêm-se reunir a cerimônia do poder e a forma da experiência, a demonstração da força e o estabelecimento da verdade (...) A superposição das relações de poder e das de saber assume no exame todo seu brilho visível. Michel Foucault

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