Quando paramos para refletir sobre sociedade, como organismo vivo que sofre e realiza transformações, sejam elas sustentáveis ou não, no intuito de repensarmos os valores gerados como resultado desta grande máquina social, percebemos a necessidade de retornar os nossos olhares ao núcleo familiar, que se constitui chave mestra de todo este contexto sociocultural, em que estamos imersos.
Na busca pelo desenvolvimento, que seria para atender as necessidades desse núcleo, muitas peças dessa grande máquina foram se perdendo por muitas gerações, incluindo a que estamos agora. Começaram, então, a perder muito dos valores reais e significativos na formação do indivíduo, como parte integrante dessa história, que hoje tenta se resgatar e se reconstruir.
As famílias tiveram os seus alicerces enfraquecidos, e com isso a sociedade tornou-se vulnerável ao resultado dos próprios avanços, ou melhor, das consequências deles.
No reconhecimento da importância de reconstituir e edificar esses alicerces, a família mergulha na busca dos meios e das formas, contudo ainda, se enfraquecendo um pouco no caminho, devido às adversidades.
Contaminada e ofuscada pelo contexto político-econômico do nosso país, perde-se de vista o discernimento, bem como as suas próprias peculiaridades, como núcleo precursor de movimentos e gerador de mudanças, que podem fazer a diferença em meio a todo esse emaranhado, do que podemos classificar de “efeitos colaterais”.
Segundo Rosely Sayão, em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo:
“Quando a memória histórica de um grupo familiar não é mantida, quando suas tradições não são transmitidas aos filhos, não são apenas fatos e estilos de vida que não são preservados. Toda uma matriz de identidade daquele grupo, que tem a função de deixar marcas de identificação nas novas gerações, é ignorada. Parece que os grupos familiares passaram por um processo de pasteurização.”
É preciso, para tanto, reconhecer os papéis desse grupo (familiar), sem que haja transferência das bases de formação psicológica, emocional e educacional, que permearão por toda a história do indivíduo, para o outro ou para os meios de comunicação, a fim de que nossas crianças possam, no futuro, saber sobreviver a essa máquina, ou por que não movê-la, validando e cultivando valores morais, que hoje distorcidos, infiltram-se na vida delas. Tenta-se, então, resgatar as bases, que não foram solidificadas, nos consultórios, nos centros terapêuticos, como também nas clínicas médicas. Nunca se fez tanto uso de calmantes e antidepressivos, assim como, tratando-se das crianças e dos adolescentes, a necessidade de determinadas intervenções, por parte das escolas, atendendo a uma demanda de diagnósticos que surgem, em função de transtornos e déficits, que cada vez mais ganham lugar na vida deles, fugindo, de certo modo, ao equilíbrio natural das coisas.
Chegou o momento de apertar a tecla “pause” para repensar, reavaliar, restaurar, e por que não, aprender a renunciar. Muitas vezes é preciso perder de um lado, para ganhar do outro.
Ficamos intolerantes às frustrações e aos embates da vida, e passando esses sentimentos para os nossos filhos, comprometemos uma possível relação saudável com o mundo, ainda que com todas estas questões. Por muitas vezes “super” protegendo-os destas frustrações e destes embates, que fazem parte da vida, com importância de serem mediados e não evitados, pois promovem crescimento e autoconfiança. E na tentativa de que isto ocorra, muito mais por compensação da ausência física e/ou psicológica, protege-se de amadurecer, de aprender, de compartilhar, de saber esperar, e com isso de conquistar.
A escola é um espaço social, que aliada à família, também, contribui na formação do indivíduo de maneira integral. E que, hoje, buscando atender a demanda deste grupo familiar, preocupa-se em viabilizar uma reflexão diante do seu real papel, enquanto coadjuvante desse processo de formação, no intuito de repensar as ações, bem como as alianças de uma parceria que precisa ser fortalecida. É importante que a escola, como colaboradora, na reestruturação dos valores, esteja ao lado da família; nem atrás; nem à frente, e nem tão pouco no lugar dela.
Precisamos, enquanto gestores, na condição de pais e/ou educadores, pertencentes a esta sociedade, que vem lutando pela sustentabilidade do planeta, não nos esquecer de dar as mãos, pensando, assim, nessa geração que se encontra em fase embrionária de formação de conceitos,opiniões, paradigmas, etc. Enfim, de tudo que faz parte do desenvolvimento de uma cultura.
Vamos marcar época, escrevendo uma nova história. Vamos pensar bem no que vamos plantar, para ter a certeza do que poderemos colher. Vamos aprender a edificar, a restaurar, a movimentar. Vamos resgatar o fruto na certeza da grande colheita da vida – o ser HUMANITÁRIO.
Por : Ana Paula Barreiro Gidi
Psicopedagoga e Orientadora Educacional da Educação Infantil
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