quinta-feira, 4 de agosto de 2011

AS ORIGENS DA AGRESSIVIDADE HUMANA

A agressividade é uma característica comportamental típica dos animais. No caso do ser humano, este tipo de comportamento é influenciado tanto por fatores biológicos como sócio-culturais, e pode acarretar em sérios problemas tanto para sujeitos agressores como para vítimas de agressão. Conhecer os fatores evolutivos e ontogenéticos que influenciam a agressividade humana é portanto extremamente relevante não só para a compreensão teórica deste comportamento, como também para possíveis medidas de prevenção.

Um exemplo de transtorno que vem sendo estudado pela assim denominada psicopatologia evolucionista é a sociopatia. O desafio, nesse caso, é explicar como a evolução pode ter favorecido comportamentos altruístas e, ao mesmo tempo, ter permitido a ocorrência de comportamentos anti-sociais. Para alguns teóricos, a questão é que assim como em outras espécies é possível observar aquilo que, em biologia evolutiva, denomina-se seleção dependente de freqüência, o mesmo poderia ser verificado no caso da sociopatia.

Dito de outra forma, o transtorno estaria relacionado à propagação de um genótipo responsável por comportamentos mais agressivos e até vantajosos na luta pela sobrevivência. Em contrapartida, um aumento na freqüência de expressões desse mesmo genótipo abalaria a ordem social. A idéia central, nesse caso, parece ser a de que o processo depurativo gerado pela seleção natural tolera, até certo ponto, alguns transtornos pouco adaptados.

Os estudos da agressão ou violência assim como o da sexualidade são tidos como próprios para uma abordagem inter-disciplinar, pois o seu enquadramento em qualquer uma das disciplinas científicas revela-se insuficiente. Já aceitamos com naturalidade a expressão Sexologia como uma espécie de inter-ciência que reuniu: Psicologia; Antropologia e diversas especialidades médicas (Ginecologia; Urologia; Psiquiatria; Endocrinologia) além das disciplinas básicas que cuidam da descrição anatômica e pesquisa das funções do aparelho reprodutor humano Fisiologia sendo ainda mais comuns estudos com o enfoque clínico visando ao tratamento das disfunções sexuais e da da infertilidade e/ou da contracepção fundamentados em critérios sociológico–demográficos.

Os estudos da agressão, já denominados agressiologia (Agressiologie na França em 1983) [4] parecem seguir a mesma tendência de agregação multidisciplinar situando-se porém o enfoque dominante na área jurídica – a criminologia e não médica, São inúmeras as contribuições das Ciências Sociais, Psicologia e Ciências Biológicas em especial a Etologia e mais recentemente da Saúde Pública face a elevação da agressão como causa de morte em populações

Classificando a agressão humana

Agressão hostil (hostilidade)
É um tipo de agressão emocional e geralmente impulsiva. É um comportamento que visa a causar danos ao outro, independentemente de qualquer vantagem que se possa obter. Estamos face a uma agressão hostil quando, por exemplo, um condutor bate propositadamente na traseira do automóvel que o ultrapassou. Este comportamento só trouxe desvantagens para o próprio: tem de pagar os danos do seu carro, do carro do outro condutor, podendo ainda vir a ter problemas com a justiça. O termo raiva pode designar esse sentimento em opósição à agressão premeditada.
Agressão instrumental
É um tipo de agressão em que visa a um objecto, que tem por fim conseguir algo independentemente do dano que possa causar. É, frequentemente, planejada e, portanto, não impulsiva. Podemos apontar como exemplo de agressão instrumental o assalto a um banco: pode ocorrer no decurso da acção uma agressão, mas não é esse o objectivo. O seu fim é conseguir o dinheiro, a agressão que possa surgir é um subproduto da acção.
Agressão directa
O comportamento agressivo dirige-se à pessoa ou ao objecto que justifica a agressão. Na agressão sexual o objeto almejado confunde-se com o motivo da agressão na categoria acima descrita. Os motivos fúteis opõem-se à defesa da vida como critério de gravidade do ato agressivo.
Agressão deslocada
O sujeito dirige a agressão a um alvo que não é responsável pela causa que lhe deu origem. Em animais também se observa esse mecanismo de controle dos impulsos agressivos.
Auto-agressão
O sujeito desloca a agressão para si próprio.
Agressão aberta
Este tipo de agressão, que se pode manifestar pela violência física ou psicológica, é explicita, isto é, concretiza-se, por exemplo, em espancamentos, ataques à auto-estima, humilhações.
Agressão dissimulada
Este tipo de agressão recorre a meios não abertos para agredir. O sarcasmo e o cinismo são formas de agressão que visam a provocar o outro, feri-lo na sua auto-estima, gerando ansiedade. A teoria psicanalítica tem como explicação desta forma de agressão a motivação inconsciente
Agressão inibida
Como o proprio nome indica, o sujeito não manifesta agressão para com o outro, mas dirige-se a si próprio. O sentimento de rancor é um exemplo desta forma de expressão da agressão. Algumas teorias psicológicas têm a agressão inibida como causa de diversas doenças psicossomáticas. O grau mais severo do rancor pode ser designado por ódio contudo ainda não existe um consenso para essa terminologia.

Causas da Agressão

De acordo com Wierviorka, 1997, os problemas da violência estão ligados a representações sociais que os codificam positiva ou negativamente. Associado ao conceito de violência voluntária surgem os conceitos de abuso, agressão e agressividade.

A Agressividade, com base nos estudos de Winnicott, representa um instinto próprio a todo ser humano, necessário para a sua existência. Opinião da qual partilha o etólogo Konrad Lorenz.

A agressividade é sinônimo da motilidade, algo vital que o bebê adquire nos seus primeiros meses de vida, em seu contato com o ambiente. O comportamento agressivo faz parte da vida humana, devendo ser encarado como normal. Winnicott ilustra sua definição através do comportamento da criança. A princípio ela esgota os seus pais, mesmo sem saber, depois os esgota sabendo e, por fim, esgota-os furiosamente, com cansaço.

A manifestações das pulsões agressivas enquanto perversões ou substratos das neuroses e psicoses vai depender do modo como a criança interage com o amor de seus pais na formação de sua identidade e superação do complexo de édipo. Do mapa que a psicanálise oferece das pulsões sem dúvida, as associadas à fase anal sádica são as mais temíveis, examinando casos clínicos associados à crueldade humana, a ressistência à cura e à guerra Sigmund Freud propôs a concepção de instinto de morte (Tânatos), o que corresponde à fonte das motivações agressivas humanas nos termos da psicologia.

Actualmente, face à hipótese da catarse, ainda existem dúvidas acerca do impacto da violência veiculada através da televisão e do cinema na sociedade ocidental. Alguns especialistas julgam que esse tipo de exposição poderá aumentar a propensão da audiência a desenvolver algum tipo de agressividade subsequente na vida real. Além disso, as taxas de criminalidade e violência parecem também estar relacionadas com a programação da TV.

As constantes manifestações de agressividade com a qual a criança convive (família, televisão e social) contribuem de forma acentuada para a reprodução desses comportamentos aprendidos.
Do ponto de vista da genética apesar de ser nítido em algumas espécies e/ou nas variedades de uma espécie (cães por exemplo) a predominância de comportamentos agressivos na sua adaptação ainda não há consenso sobre a existência de genes para agressão e mesmo sobre doenças genéticas que possua a agressividade como característica patognomônica, a exemplo da Síndrome XYY e Epilepsia do lobo temporal especialmente quanto a determinação genética dessa última.

A Gênese da sociopatia e personalidades sádicas e agressivas tem que ser consideradas de natureza multifatorial envolvendo tanta características da origem psicossocial como biológica.


Referências

  1. LORENZ, K.A agressão, uma história natural do mal. Lisboa, Moraes, 1973
  2. DOLLARD, John et al. Frustração e agressão. in: Megargee, E.I.; Hokanson , J.E. (orgs) A dinâmica da agressão, análise de indivíduos grupos e nações. SP, EPU, EDUSP, 1976
  3. LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. sp, Martins Fontes, 2001
  4. LABORIT, HENRI. Os mecanismos da agressividade. Correio da UNESCO ano 12, n3, 25-29, março de 1983
  5. Dahlberg, L.L., Krug, E.G. Violência: um problema global de saúde pública. Ciênc. saúde coletiva vol.11 suppl.0 Rio de Janeiro 2006. Disponível em .pdf (Dez.2010)
  6. FREUD, S. Além do Princípio de Prazer. In: Obras psicológicas completas: Edição Standard Brasileira. Rio de Janeiro: Imago, (1920) 1996
  7. SAKAMOTO, Américo C. Expressão das crises límbicas em adultos. Escola Latino Americana de Verão de Epilepsia Material didático (Dez. 2010)

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