quinta-feira, 4 de agosto de 2011

FAMÍLIA & ESCOLA: QUESTÃO DA FALTA DE LIMITES NA EDUCAÇÃO FAMILIAR GERA INDISCIPLINA ESCOLAR


Ana Paula Moura

Kátia Maria de Oliveira Santos

Nailma de Lima Leão


O tema indisciplina e a falta de limites são assuntos recorrentes na atualidade sendo uma temática bastante discutida entre pais responsáveis e educadores. Tal problemática ultrapassa o âmbito familiar e escolar, sendo explorados de forma sensacionalista pela mídia; os questionamentos são vários: será a falta de limites, indisciplina, hiperatividade ou apenas uma fase?

Seja qual for o foco em questão ele nos remetem a refletir sobre o papel da família e da escola na formação da personalidade das crianças. Construir e resgatar princípios são desafios para pais, responsáveis, e a escola. Na busca de soluções, pais recorrem à escola que por sua vez, repassa à responsabilidade a família. Afinal de quem é o compromisso de impor limites a criança?

Sobre esse aspecto (TAILLE, 2003) relata que para vivermos em grupo as restrições, limites, fronteiras, as normas são fundamentais para a boa convivência, o bem-estar social e o progresso da humanidade. Na sociedade existem limites normativos, que todo individuo deve seguir, são os que nos levam à dimensão do proibido. Já os físicos estão relacionados à dimensão do impossível, pois eles nos permitem ouvir música alta de madrugada, porém a lei dos homens proíbe. Neste caso a liberdade fica limitada em nome dos valores, pois as leis físicas permitem fazer; mas os normativos não. O que torna mais difíceis de serem cumpridos, porque são colocadas pela sociedade em prol de uma boa convivência. (TAILLE, 1996).

Tanto os limites normativos quantos os limites físicos estão inseridos nos limites restritivos, que colocam a dimensão do que não é possível de ser realizado. São os NÃO, tão conhecidos que devem ser respeitados e não devem ser desobedecidos, quando estes são fundamentais se ditos para educar e direcionar o indivíduo a fazer algo pensando no bem-estar do próprio e dos membros que fazem parte da sociedade que está inserido. Em outras palavras, se nos deparamos com uma criança em situação de perigo frente a uma tomada, ou querendo pular de uma altura que oferece risco nosso impulso imediato será de impedi-lo: “Não faça”, “Não pode”.

Faz parte da educação de uma criança, do processo civilizador do ser uma vez que ele convive com outras pessoas, dentro de um grupo social, a aplicação de limites. Atualmente vemos a ausência de limites nas crianças e adolescentes. É clara a falta de respeito ao próximo, no conviver em sociedade, e transgressão a todo tipo de regras, inclusive as mais simples. Desde ceder um lugar para um idoso, respeitar a ordem de chegada em uma fila entre outras. (TAILLE, 2003).


1. LIMITES


De acordo com o dicionário Aurélio vejamos alguns conceitos de limites: linha de demarcação; raia; linha real ou imaginária que separa dois terrenos, divisa, fronteira, momento, data, ponto que não se deve ou não se pode ultrapassar. Já na área de educação, o conceito de limites está interligado às situações sociais, políticas e econômicas do país, podendo sofrer alterações já que esses fatores sociais se encontram em constantes mudanças. Taille (1996, p.7) entende que:

“Limite” é uma palavra que tem voltado à tona ultimamente. É empregada com freqüência de forma queixosa: “Essas crianças não tem limites!”, ou então, com um quê de autoritarismo “É preciso impor limites!” ou ainda como critica a família do vizinho ou dos alunos; “Esses pais não colocam limites!”. A obediência, o respeito, a disciplina, a retidão moral, a cidadania, enfim, tudo parece estar associado a essa metáfora.

Toda criança precisa desde cedo de pais coerentes e conscientes no que diz respeito a educar. A criança deve aprender logo cedo a ouvir o não e receber limites. Mas para isso é necessário que os pais estejam de acordo, que um não desautorize o limite cobrado pelo outro. Para Asha Phillips (1999) “pais que se recusam a dizer não nos momentos apropriados estão roubando de seus filhos à capacidade de exercitar suas emoções”. Por mais difícil que seja quem ama educa frase que é titulo de um dos livros de Tiba, o autor defende que essa geração é de “príncipes” e “princesas”, “com muito mais direitos do que deveres, mais liberdade que responsabilidade, mais receber que dar ou retribuir. Tais comportamentos refletem nos meios sociais, acostumados a serem tratados desta forma em suas casas; as crianças e adolescentes, também querem se tornar “príncipes sociais” extrapolando assim, o âmbito familiar, tornando os demais meios sociais tumultuados, agitados e desorganizados com sua indisciplina. Nós educadores não podemos nos omitir com a perda de limites, a bagunça se estabelece na sala de aula e desse modo o desequilíbrio se instala, deixando o professor desconcertado. As regras devem ser sempre claras e justas, respeitando as características próprias de cada um, estando explícitas naturalmente, sendo reconhecidas tanto por quem têm a função de estabelecer como pelos que devem cumpri-las. Porém os pais também devem concordar e aceitar as regras exigidas pela escola:

A educação ativa formal é dada pela escola. Porém, a educação global é feita a oito mãos: pela escola, pais e pelo próprio adolescente. Se a escola exige o cumprimento de regras, mas o aluno indisciplinado tem o apoio dos pais, acaba funcionando como um casal que não chega a um acordo quanto à educação da criança. O filho vai tirar o lucro da discordância pais/escola da mesma forma que se aproveita das divergências entre o pai e a mãe. (TIBA, 1996, p. 140)

O limite e a organização da rotina são essenciais na formação da criança. Segundo Lobo (1997, p. 524) “os limites são de importância fundamental na educação, porque eles influem diretamente no desenvolvimento da personalidade, estabelecendo o comportamento das crianças e facilitando sua socialização”.

Cabe aos pais darem inicio ao processo de socialização ensinado a criança a falar, a andar, a respeitar o outro entre outras coisas, mas, nada disso terá sentido se a socialização não se der de forma coletiva mesmo no âmbito familiar, pois a criança precisa aprender a respeitar seus familiares, utilizar a fala na relação com o outro e moldar seu comportamento diante das expectativas e também devem ser respeitada. Comumente presenciamos cenas em que a criança bate, chuta, grita e empurrar os pais, entre outras atitudes para conseguir ou contestar algo, porém tais procedimentos não devem ser permitidos, pois sabemos que as experiências vividas com seus familiares servirão de modelo quando a mesma for conviver em outros ambientes sociais. Entretanto também há no núcleo familiar desrespeitos a individualidade e direitos da criança, por isso a socialização deve ser coletiva gerando um ambiente harmonioso e civilizador em que haja respeito recíproco.


2. A FAMÍLIA E SUA RELAÇÃO COM A AUTORIDADE E O AUTORITARISMO



Retornando as situações que foram observadas e citadas no inicio do trabalho sobre a fala de pais em relação aos comportamentos inadequados de seus filhos como: “Eu não sei mais o que fazer”, críticas a postura do educador: “Tenha mais pulso, pode colocar de castigo” e ameaças físicas ou verbais percebem-se em tais procedimentos demonstrações de autoritarismo como forma de estabelecer sua autoridade.

Tiba (1996, p 13) explica:

Autoridade é algo natural que deve existir sem descargas de adrenalina, seja para se impor ou se submeter, pois é reconhecida espontaneamente por ambas as partes. Assim, o relacionamento se desenvolve sem atropelos. O autoritarismo, ao contrário, é uma imposição que não respeita as características alheias, provocando submissão e mal-estar, tanto na adrenalina do que impõe, quanto na depressão do que se submete


Em nosso cotidiano presenciamos atitudes e até agimos de forma autoritária para conseguirmos que as crianças se comportem e sejam disciplinadas, chegando ao ponto de nos exceder, usando palavras e gestos grosseiros, até violentos; uma maneira equivocada de exercer a nossa autoridade, como Tiba (1996) afirma, o autoritarismo é o contrário da autoridade, pois, ela deve dar-se de forma espontânea como um entendimento de ambas as partes, demonstrando respeito daquele que impõem e do que é submetido. Assim as relações interpessoais devem ter como base, além do respeito, à confiança e o amor, considerando as diferenças e as características pessoais de cada um, valorizando a auto-estima do outro. Ele continua (1996, p. 13): “filhos precisam de pais para serem educados; alunos, de professores para serem ensinados. Estes até podem ser amigos, porém não mais amigos do que pais; não mais amigos do que professores”.

3. DISCIPLINA E FATORES DE INTERFERÊNCIA.

Partindo dos pressupostos já abordados, analisaremos os conceitos de disciplina e indisciplina. Vejamos as definições do Dicionário Aurélio sobre Disciplina: Regime de ordem imposta ou livremente consentida; Ordem que convém ao funcionamento regular duma organização (militar, escolar, etc.); Relações de subordinação do aluno ao mestre ou ao instrutor; Observância de preceitos ou normas; Submissão a um regulamento. Já indisciplina é um procedimento, ato ou dito contrário à disciplina; desobediência; desordem; rebelião.

A disciplina é fundamental à educação e deve dar-se de forma tranqüila e saudável, pois quem educar não pode se negar a corrigir comportamentos inadequados, devendo apontar os limites essenciais para levar as crianças e os jovens a se desenvolverem bem, conduzindo-os assim a situa-se no mundo de forma equilibrada. Içami Tiba (1996, p. 145) define disciplina como: “o conjunto de regras éticas para se atingir um objetivo. A ética é entendida, aqui, como o critério qualitativo do comportamento humano envolvendo e preservando o respeito ao bem estar biopsicossocial”. O autor aponta como causas da indisciplina na escola as características pessoais do aluno (distúrbios psiquiátricos, neurológicos, deficiência mental, distúrbios de personalidade, neuróticos), características relacionais (distúrbios entre os próprios colegas, distorções de auto-estima) e os desmandos de professores. Para o autor (1996, p. 99), “a disciplina escolar é um conjunto de regras que devem ser obedecidas para o êxito do aprendizado escolar”. Sendo assim é vista como uma qualidade de relacionamento humano entre o corpo docente e os alunos em uma sala de aula, portanto, na escola.

Deste modo como em qualquer relacionamento humano, é necessário levar em conta as características de cada parte envolvida: aluno, professor e o ambiente.

Da parte do aluno, o autor coloca que este é a peça chave para a disciplina e o sucesso de aprendizado, pois a maior dificuldade que ele encontra, está situada na falta de motivação que o leve a estudar. O autor diz ainda que o sistema de primeiro e segundo grau é um sistema aprovativo, onde o aluno somente deseja "passar de ano", cabendo ao professor procurar maneiras para despertar sua curiosidade e a vontade de aprender.

Agora partindo dos preceitos citados entorno das características pessoais dos alunos e relacionais, voltaremos nossos olhares para o comportamento daqueles alunos mencionados no inicio que se demonstram apáticos ou agitados, não conseguindo se concentrar para realizar as atividades.

Em nosso estágio também nos deparamos com esse tipo de aluno, juntamente com a professora regente fomos tendo um olhar diferenciado e registrando seus comportamentos, elaborando assim, uma ficha descritiva. Depois os pais foram chamados a escola e colhemos mais informações, a fim de ter um respaldo maior. Os relatórios foram repassados para psicopedagoga que direcionou os pais a levarem seus filhos ao clinico para ser feita uma avaliação diagnóstica de forma responsável. Pois notamos atualmente certo modismo preocupante, em que educadores e pais fazem diagnóstico sem nenhum fundamento, relacionando à falta de disciplina como sendo causado por um TDAH.

É comum ouvirmos a frase: “esse menino é hiperativo”, utilizada para justificar comportamentos fora dos padrões estabelecidos ou esperados pelo meio social onde estão inseridos, sendo uma desculpa leviana para encobrir o despreparo do professor e dos pais de estabelecer sua autoridade. Pais e professores não podem diagnosticar tal problema sem uma investigação profissional, apenas um neurologista juntamente com avaliações de outros profissionais da área da psicologia pode chegar a essa conclusão diagnostica. Crianças com TDAH e outras disfunções psíquicas devem passar por um tratamento sério e longo, segundo a ABDA (Associação Brasileira de Déficit de Atenção), o TDAH é um transtorno de desenvolvimento do autocontrole que consiste em problemas com os períodos de atenção, os controles de impulso e nível de atividade. Não há comprovação cientifica, mas pode ser causada por um desequilíbrio das substâncias químicas do cérebro, ou neurotransmissores reguladores da conduta de forma genética. De modo que esse desequilíbrio bioquímico impede focar a atenção numa determinada atividade.

São vários os distúrbios comportamentais e cognitivos com sintomas semelhantes ao TDAH. Antes de rotular, devemos saber como agir, identificar e encaminhar os pais, e só depois da avaliação profissional é que vamos saber como lidar com crianças excessivamente desconcentradas e agitadas.

Usando o nosso estágio como um laboratório para esse trabalho, procuramos a coordenadora pedagógica da Instituição para tomar conhecimento das análises das crianças que foram encaminhadas para a avaliação clinica e, das três, apenas uma foi diagnosticada como sendo hiperativa com tratamento medicamentoso, a outra estava tendo problemas familiares, pois os pais além de separados, a mãe estava morando em outro país e o pai em outro estado e a criança estava sobre o cuidado da avó. Temos aí nitidamente uma carência afetiva. A terceira apesar da resistência da mãe em assumir o motivo do seu comportamento agressivo, a psicopedagoga chegou à conclusão que era a falta de limites, pois esta questão não foi bem trabalhada na sua educação familiar. Ao presenciar cenas de violência verbal e física entre os pais, a mãe como forma de compensar a carência afetiva do filho, fazia todas suas vontades e ficava do seu lado, mesmo quando ele agredia os colegas, chegando ao ponto de trocá-lo de turno. Contudo foram detectados outros casos também nas demais salas da escola, tanto de TDAH como de distúrbios comportamentais e cognitivos.

Da parte do professor, o autor coloca como sendo importante a consciência que este deve ter de ensinar bem, sua postura e didática. De acordo com ele “o professor é essencial para a socialização comunitária”. Tem basicamente quatro funções: professor propriamente dito, coordenador de grupo de alunos, membro do corpo docente e empregado de uma instituição. Se faltar didática, postura, autoridade, domínio e tolerância ao professor, ele também contribui para a indisciplina na sala de aula. Partindo desses preceitos Tiba (1996 p. 111) cita que:

Ser professor não significa estar sempre certo, não ter problemas psicológicos, ser sempre vítima dos alunos ou estar inocente em todas as situações ocorridas nas classes. Como qualquer outro ser humano, ele está sujeito à psicologia e psicopatologia humana, isto é, a apresentar também distúrbios psiquiátricos, psicológicos, orgânicos, sociais etc.


É notório que havendo desmando por parte do professor, quando faz uso de sua autoridade, a fim de conseguir benefícios pessoais, posicionando-se como o detentor do saber e desmerecendo os conhecimentos dos alunos, isso gera um mal-estar, tornando a aula inviável e não interessante. Tal postura permite que a indisciplina instale-se na sala de aula.

Paulo Freire (1985. p. 19), coloca que a disciplina implica em uma relação entre o professor e o aluno, em que a autoridade esta situada na liberdade sadia de ambos. Entretanto a disciplina é uma tensão permanente, pois a autoridade e a liberdade que existem em seu interior são o que determinam o equilíbrio que a mesma possui, portanto, o autor destaca que, a disciplina é uma "relação radicalmente democrática na qual, porém, jamais o educador será igual ao educando, uma vez que eles possuem diferenças".

Como último fator de interferência na disciplina existe a questão do ambiente, causando problemas da seguinte forma: salas de aulas numerosas e sem ventilação, barulhentas, onde se comunicar é impossível, etc. Elementos estes, que contribuem também para o não cumprimento as regras estabelecidas.

Existem outros fatores em nosso estudo que foram observados na prática do estágio e que o autor também destaca: Instituições que vê o aluno como cliente sempre lhe dando razão, independente do fato do mesmo está certo ou não; greves e carência de professores nas escolas públicas, idades cronológicas semelhantes e desenvolvimentos emocionais não semelhantes; dinâmicas familiares distintas; valores pessoais; alunos transferidos de outras escolas; alunos que não sentem simpatia pelo professor fazendo de tudo para prejudicá-lo, etc.

Percebemos através desse estudo que os assuntos ligados a falta de limite no ambiente familiar e sua interferência na disciplina escolar, além do papel do professor, são temas complexos, pois a disciplina pode variar de acordo com as condições específicas a que ela se encontra.

Somente somos levados a concluir que a falta de limites e a disciplina são atos complementares, isto é, estão amarradas a como se dar as características das relações humanas entre pais e filhos, professor e aluno e escola e família. Assim vimos então à vastidão de opiniões e fatores do qual o tema está envolvido.

Este tipo de constatação nos leva a perceber que a família desempenha um papel de suma importância na formação da personalidade da criança, pois é nela que a criança assimila valores que permanecem por toda a sua vida sendo a base para uma boa educação. Conseqüentemente, os pais são os modelos básicos para as crianças e dão segurança a elas, ou seja, as crianças sabem que podem contar com eles. Isso pode diminuir o risco de serem crianças indisciplinadas nos ambientes sociais, ficando claro para nós que em todos os grupos sociais haverá problemas de indisciplinas, contudo, esta questão pode ser amenizada caso sejam reavaliadas as formas de como melhorar as relações afetivas e de autoridade entre as crianças. Pais, professores e os demais grupos sociais, encarando apenas essas questões não só como sendo de ordem comportamental, mas também um problema de estrutura social que afeta as relações.

É através do melhoramento da estrutura familiar, da forma de educar os filhos, além do contexto social, da qualificação do professor e dos funcionários da escola, que se poderão encontrar estratégias para ajuda as crianças e adolescentes a superarem suas reações de agressividade e defensivas frente às varias situações do dia a dia.


4. EDUCADOR, ESCOLA E SOCIEDADE FRENTE À INDISCIPLINA E POSSÍVEIS MELHORIAS



Alguns educadores e escolas também terminam contribuindo quando passam a ver o aluno como cliente, e deixam de agir de forma mais enérgica por medo de desagradar pais e alunos, o que favorece que os mesmos tenham mais domínio em sala do que seus educadores.

O especialista em psicologia do Desenvolvimento Moral Yves De La Taille, diz que nenhum comportamento é obtido aleatoriamente: “As crianças e os jovens são reflexo da sociedade em que vivem e não uma tribo de alienígenas misteriosamente desembarcadas em nosso mundo, com costumes bárbaros adquiridos não se sabe de onde”. Segundo ele nossa sociedade precisa de limites, regras e ordem para as condutas de nossos jovens e crianças. Mas onde a nossa sociedade, pais e professores se perderam nesse processo?

Tiba (1999, p. 12) nos esclarece que a nossa geração viveu as questões ligadas à disciplina de forma oprimida e sofrida. A geração de nossos pais educou numa autoridade vertical, de maneira patriarcal, onde os filhos eram obrigados a cumprir tudo que eles ditavam sem direito a questionarem mesmo sem aceitar. Com isso a nossa geração decidiu modificar tal maneira de impor limites aos filhos, que contribuiu para desvalorização dos valores da primeira passando a ser tolerante aos atos de indisciplina e não aceitação das regras de forma passiva frente aos comportamentos inadequados de seus filhos, por exagero de ter medo de causar traumas, caso se colocasse mais enérgicos em sua educação.

Algumas correntes difundidas pela psicologia também conduziram a nossa geração a adotar tal postura, divulgando esclarecimentos sobre como a educação muito repressiva pode frustrar as crianças e causar tais traumas. “Frases como: “Não reprima seu filho”, “sejam mais amigos de seus filhos” ou “Dê mais liberdade a seus filhos”, desencadeando assim, a postura de um modelo horizontal de educar, em que os pais e filhos têm os mesmos direitos.

Nessa perspectiva podemos afirmar que, as rápidas mudanças da sociedade geraram desníveis comportamentais nessa geração e nas seguintes, com um custo na educação que ainda não podemos definir. Ao confundir a autoridade com autoritarismo foi criada, como define Tiba, uma geração de “Príncipes” e “Princesas”.

Entretanto outra condição a ser pensada é a carência afetiva de algumas crianças, seja por falta da presença dos pais em suas vidas ou por conta do corre-corre dos dias atuais. Em virtude da cobrança do compromisso profissional, pais terminam deixando em segundo plano a educação de seus filhos, colocando sobre cuidados de babás, creches, e escolas particulares ou públicas, responsabilizando-as a educá-las, permitindo dessa forma que a individualidade também chegasse ao núcleo familiar, superando os interesses coletivos. Como já falamos, criamos um sentimento de culpa para compensar tal falta de tempo, passando a sermos permissíveis em demasia. Em provérbio diz: ensina seu filho o caminho em que deve andar e ele nunca desviará dele.



4.1 POSSÍVEIS MELHORIAS


Em suma podemos ressaltar que a família é o ponto preponderante em relação às primeiras transmissões de regras que servirão de alicerce na vida da criança, assim ela precisa ser educada com amor e respeito, mas, as regras e normas de convivência devem ser cobradas desde cedo de forma clara e justa por quem as educa no núcleo familiar sem autoritarismo. Ao passar a conviver em outros meios sociais, essas cobranças devem dar-se da mesma forma, no caso da escola é necessário também obter informações preliminares sobre sua vida, como forma de identificar problemas pré-existentes e como medida de prevenção.

O educador como parte integrante da escola deve trabalhar zelando pelo respeito e autonomia do estudante evitando qualquer visão preconceituosa por parte de qualquer membro da instituição. E estabelecendo sua autoridade de forma afetiva, buscando despertar no aluno interesse pelo saber, através de aulas bem elaboradas e criativas, em que o sócio-cultural do aluno esteja inserido procurando resgatar valores perdidos.

Família, escola e sociedade devem andar em parceria a favor de uma educação de qualidade e inclusiva, em que todos devem exercer sua cidadania. Aliado a isso, criar e educar uma criança é uma arte, o que nos faz refletir sobre como conduzi-la da melhor maneira para que ela consiga se integrar nos meios sociais de forma bem sucedida.


Entretanto, ao final desta pesquisa, a nossa intenção não é de encerrar o assunto, mas de mostrar que existem desafios que podem ser superados, e que paulatinamente, os problemas encontrados no caminho da educação são solucionáveis com muito trabalho e dedicação, pois o tema abordado no ponto de vista conceitual necessita ser mais explorado, e na prática, necessita que os educadores, pais e a sociedade de um modo geral, unam-se em uma só força, para poder decifrar o enigma da complexidade que envolve “A família e a escola: questão da falta de limites na educação familiar gera indisciplina escolar”.

Portanto, as exigências impostas pelas mudanças sociais são crescentes e desafiadoras, no entanto, precisa aliar a capacidade técnica a uma permanente renovação, e a um alto padrão de criatividade como elementos-chaves para poder enfrentar os desafios e ter êxito em seus ofícios. Por isso, a contribuição deste estudo é de reflexão, questionamentos e ampliação da discussão acerca do contexto, colocando em questão pontos que ainda não foram abordados e as experiências vividas através dos nossos estágios que foram de muita relevância para nossa formação acadêmica e sem dúvida irão complementar o nosso percurso profissional, pois tudo que assimilamos em nosso curso de pedagogia, servirão para serem aplicados em nossa prática pedagógica, a fim de contribuir na formação sociocultural e cognitiva de nossos educandos, tornando-os formadores de opiniões.



REFERÊNCIAS



ABDA - Associação Brasileira de Déficit de Atenção. Disponível em . Acesso em 10 janeiro. 2010.

A FAMILÍA & a Escola: a questão dos limites em xeque. Construindo e Aprendendo Natureza e Sociedade Manual do Professor-Educação Infantil: 5 anos, São Paulo: Editora Construir.

CAETANO, Maria Luciana. A difícil arte de educar. Psique Ciência & Vida Especial, São Paulo, n.2, Ano I, p. 52-57.


MUNHOZ, Maria Luiza Puglisi. Sem Limites. Psique Ciência & Vida Especial, São Paulo, n.2, Ano I, p. 34-37.

DE LA TAILLE, Yves. A Indisciplina e o sentimento de vergonha. In: Aquino, Julio Groppa (org). Indisciplina na escola: Alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996.

DE LA TAILLE, Yves. Limites: três dimensões educacionais. 3. Ed. São Paulo: Ática, 2002.

TIBA, Içami. Disciplina – Limite na medida certa. São Paulo: Editora Gente, 1996. 8ª edição.


TIBA, Içami. Conversas com Içami Tiba: Volume 2. São Paulo: Editora Integrare, 2008.

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