quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O ULTRAPASSADO

Moacir Gadotti
“O sistema formal de educação, em geral, é baseado em princípios predatórios, em uma racionalidade instrumental, reproduzindo valores insustentáveis. Para introduzir uma cultura da sustentabilidade nos sistemas educacionais, nós precisamos reeducar o sistema. Ele faz parte do problema, não é somente parte da solução.”

“O que estamos estudando nas escolas? Não estamos construindo uma ciência e uma cultura que estão servindo apenas para a degradação do planeta e dos seres humanos?”

“Está claro que entre sustentabilidade e capitalismo existe uma incompatibilidade de princípios. Como pode existir um crescimento com equidade, um crescimento sustentável, numa economia regida pelo lucro, pela acumulação ilimitada e pela exploração do trabalho?”

“Desenvolvimento sustentável só tem sentido numa economia solidária, uma economia regida pela compaixão e não pelo lucro.”

“O conceito de ‘desenvolvimento sustentável’ é bem simples: trata-se do desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras em atender a suas próprias necessidades.”

“A economia solidária está fortemente ligada à necessidade de formação cultural. Trata-se de uma mudança profunda de valores e princípios que orientam o comportamento humano em relação ao que é e ao que não é sustentável.”

“Necessitamos de uma economia que não coloque o mercado livre e o lucro como centro de tudo.”

“Para mudar o modo pelo qual os homens hoje produzem e reproduzem a sua existência é preciso mudar a lógica que preside esse modo de existir humano.”

“A sensação de pertencimento ao universo não se inicia na idade adulta e nem por ato de razão. Desde a infância, sentimo-nos ligados a algo que é muito maior do que nós. Desde criança nos sentimos profundamente ligados ao universo e nos colocamos diante dele num misto de espanto e de respeito."
“Fazemos escolhas! Nem sempre temos clareza delas. A educação carrega de intencionalidade nossos atos. Precisamos ter consciência das implicações de nossas escolhas. O processo educacional pode contribuir para humanizar o nosso modo de vida. Temos que fazer escolhas. Elas definirão o futuro que teremos.”
“A formação está ligada ao espaço-tempo no qual se realizam concretamente as relações entre o ser humano e o meio ambiente e os seres humanos entre eles mesmos. Elas se dão, sobretudo, ao nível da sensibilidade, muito mais do que ao nível da consciência.”

“Precisamos de uma ecopedagogia e uma ecoformação; precisamos de uma Pedagogia da Terra, justamente porque sem essa pedagogia para a ‘re-educação’ do homem/mulher, principalmente do homem ocidental, prisioneiro de uma cultura cristã predatória, não poderemos mais falar da Terra como um lar, como uma toca, para o ‘bicho-homem’, como dizia Paulo Freire.

“Sem uma educação para uma vida sustentável, a Terra continuará apenas sendo considerada como espaço de nosso sustento e de nosso domínio técnico-tecnológico, um ser para ser dominado, objeto de nossas pesquisas, ensaios e, algumas vezes, de nossa contemplação. Mas não será o espaço de vida, o espaço do aconchego, de ‘cuidado’, como sustenta Leonardo Boff.”

“Não aprendemos a amar a Terra apenas lendo livros sobre isso, nem livros de ecologia integral. A experiência própria é fundamental. Plantar e seguir o crescimento de uma árvore ou de uma flor... Observar uma plantinha que cresce viçosa no meio de uma parede de cimento. Acariciá-la, contemplar com ternura o pôr-do-sol... São múltiplas formas de viver em relação permanente com esse planeta generoso e compartilhar a vida com todos os que o habitam ou o compõem.”

“A vida tem sentido, mas ele só existe em relação.”

“Existirão outros planetas fora do sistema solar que abrigam a vida inteligente? Se levarmos em conta que a matéria da qual se originou o universo é a mesma, é muito provável. Mas, por ora, só temos um que é nosso amigo. Temos que aprender a amá-lo.”

“As crises criadas pelos seres humanos no planeta estão mostrando, todos os dias, que somos seres irresponsáveis. Educar para o desenvolvimento sustentável é educar para tomar consciência dessa irresponsabilidade e superá-la.”

“Este início de milênio caracteriza-se por um enorme avanço tecnológico e também por uma enorme maturidade política: enquanto a internet nos coloca no centro da era da informação, o governo do humano continua muito pobre, gerando misérias, deterioração e guerras sem fim. Quinhentas empresas transnacionais controlam 25% da atividade econômica mundial e 80% das inovações tecnológicas. A globalização econômica capitalista enfraqueceu os estados nacionais impondo limites para a sua autonomia, subordinando-os à lógica econômica das transnacionais. Gigantescas dívidas externas governam países e impedem a implantação de políticas sociais equalizadoras.”

“As empresas transnacionais trabalham para 10% da população mundial que se situa nos países mais ricos, gerando uma profunda e inadmissível exclusão. Esse é o cenário da travessia para outra globalização.”

“O neoliberalismo propõe mais poder para as transnacionais e os estadistas propõem mais poder para o Estado, reforçando as suas estruturas. No meio de tudo isso está o cidadão comum, que não é nem capitalista nem estado.”

“A resposta parece estar além destes dois modelos clássicos e muito além de uma suposta ‘terceira via’, que deseja apenas dar sobrevida ao capitalismo, provocando ainda maior exclusão social. A resposta parece vir hoje do fortalecimento do controle cidadão frente ao Estado e ao mercado. É a sociedade civil fortalecendo sua capacidade de governar-se e de criar mecanismos de gestão pública não estatal.”

“Para nos dimensionar como membros de um imenso cosmos, para assumirmos novos valores, baseados na solidariedade, na afetividade, na transcendência e na espiritualidade, para superar a lógica da competitividade e da acumulação capitalista, devemos trilhar um caminho difícil.”

“Nenhuma mudança é pacífica. Mas ela não se tornará realidade, orando, rezando ou simplesmente pelo nosso puro desejo de mudar o mundo. Como nos ensinou Paulo Freire, mudar o mundo é urgente, difícil e necessário. Mas para mudar o mundo é preciso conhecer, ler o mundo, entender o mundo, também cientificamente, não apenas emocionalmente, e, sobretudo, intervir nele, organizadamente.”

“O racionalismo deve ser condenado, sem condenarmos o uso da razão. A lógica racionalista nos levou a saquear a natureza, nos levou à morte em nome do progresso. Mas a razão também nos levou à descoberta da planetaridade.”

“Consideramo-nos ‘superiores’ pela nossa racionalidade e exploramos a natureza sem cuidado, sem respeito por ela. Não nos relacionamos com a Terra e com a vida com emoção, com afeto, com sensibilidade. Nesse campo, estamos apenas engatinhando. Mas estamos aprendendo.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário