domingo, 24 de julho de 2011

O AFETO É A BASE PARA A MOTIVAÇÃO DO ALUNO

Notícia publicada na edição de 20/07/2011 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 12 do caderno A

Regina Helena Santos Práticas eficientes na área de relacionamento humano para o sucesso na relação ensino-aprendizagem


Qual a fórmula mágica para resgatar a autoridade do professor e para que os alunos aprendam mais, melhor e com um desempenho que os ajude a ter sucesso na vida? Para o professor e mestre em Educação Marcos Méier, da Universidade Federal do Paraná, a resposta a este questionamento - que resume boa parte das angústias dos educadores em sala de aula - está em investir na auto-estima e na construção de uma relação afetiva entre o mestre e o aprendiz. "Nós, seres humanos, somos afetivos, desde bebês até nos tornarmos idosos. Por isso o afeto é a base da motivação do aluno", resumiu, durante recente visita à cidade de Votorantim, onde passou dicas e ensinamentos ao público participante do III Congresso de Educação.


Pesquisador e divulgador da Teoria da Mediação da Aprendizagem, do psicólogo judeu-israelense Reuven Feuerstein - que, ainda vivo, aos 90 anos de idade, continua seus trabalhos iniciados há décadas sob orientação de Jean Piaget - Méier acredita que a solução para os principais problemas enfrentados por docentes em sala de aula, desde os ligados à aprendizagem até aqueles de ordem disciplinar, podem ser solucionados a partir de posturas adequadas e do desenvolvimento e aprimoramento psicológicos.


"Que aluno quer aprender com uma professora que não liga para ele? É o vínculo que vai servir de sustentação para as relações que vêm depois: autoridade, incentivo, motivação." Como exemplo do quão importante é a relação de amor e carinho entre professores e alunos, Méier lembra dos sentimentos em família. "A maioria das pessoas já evitou fazer coisas erradas não por medo de apanhar do pai ou da mãe, mas por medo de ver a tristeza, a vergonha por algo que desagradasse a eles. Se, como professor, as crianças te amarem, terão vergonha de não fazer a lição, vão querer aprender", acredita o educador.


Barreiras pelo caminho


Tão importante quanto criar o vínculo com os alunos é difícil fazê-lo, por parte dos professores. Isso porque o sucesso deste trabalho depende de fatores diretamente ligados às dificuldades psicológicas individuais de cada ser humano, como a capacidade de manter a auto-estima elevada e lidar com as carências - o que se torna um desafio, nos dias atuais, quando a pressão pelo sucesso absoluto tem causado muitos casos de depressão. "O professor que não tem uma boa auto-estima acha que a indisciplina do aluno é contra ele, leva para o lado pessoal. Por exemplo, um adolescente que reage contra o professor, não está reagindo contra a pessoa, mas contra a figura de autoridade. E um professor que está com uma boa auto-estima sabe disso e lida bem com a situação.


" Méier explica que a auto-estima elevada funciona como uma espécie de sistema imunológico mental, que ajuda o corpo a se defender de doenças como a depressão. E para alcançar o sucesso na relação consigo mesmo, o professor dá algumas dicas. "A mídia não quer que você se sinta bem com você mesmo, porque se estiver feliz, vai comprar o quê? Isso nos cria um sentimento de que não valemos nada, de que algo está faltando. Também temos que ter cuidado com os modelos, especialmente de beleza. Isso não existe e só deixa as pessoas frustradas. Modelo só existe quando temos cópias. Mas todos nós, seres humanos, somos únicos, diferentes. Se não existe ninguém igual, não existe modelo.


"E na busca por elevar a auto-estima, Méier orienta os professores para que busquem ajuda, inclusive profissional, se necessário. "Infelizmente, os professores que não lidam com as próprias emoções estão prejudicando a vida de muitas crianças. Vale a pena investir em si mesmo", falou, referindo-se à procura por tratamentos psicológicos.


Elogie do jeito certo


Com a auto-estima em ordem, cabe aos professores usá-la para estabelecer os vínculos e para motivar seus alunos - a partir de sua própria motivação. E é nesse momento que o elogio - da maneira correta - ajuda muito o desempenho dos estudantes. Méier dá como exemplo um estudo relatado na edição de janeiro deste ano da revista Galileu. Psicólogos propuseram uma atividade, de média dificuldade, para dois grupos de crianças. Depois de solucionada a tarefa, uma parte do grupo foi elogiada por sua inteligência; a outra, por seu esforço na realização da mesma. Na sequência, numa segunda etapa - e nova tarefa - as crianças que haviam sido elogiadas pela inteligência não quiseram mais resolver o problema. As demais continuaram com a atividade. "Elas pensaram: "se eu errar, eu vou perder o elogio".


Já as outras tinham como referência: "mesmo que eu erre, serei elogiado". Por isso, os professores devem elogiar o trabalho, o esforço, a dedicação, os valores, a solidariedade, a honestidade. Parem de elogiar a inteligência, a beleza, a capacidade. Como os alunos vão mudar essas coisas?", orienta o educador. Em relação às críticas - ou à necessidade de apontar um erro, também importante no processo ensino-apredizagem - Méier sugere aos docentes usar a resposta errada para explicar o certo. "Dá até para elogiar o aluno, agradecê-lo por compartilhar o erro, que ajudou a turma a aprofundar e entender o tema."Para manter a auto-estima e a motivação dos alunos, o segredo do sucesso, segundo Marcos Méier, é a promoção da autonomia e da autoria. Ele dá como exemplo a educação infantil, o mestrado e o doutorado, etapas da educação que mais agradam os estudantes, de forma geral. "


Nestas fases eles querem ir à escola, porque têm chances de criar, têm espaço para serem autores. Nas demais, não gostam da escola, é pesado, chato, porque é só cópia. A motivação vem do espaço para a criação." E o educador dá exemplos banais e práticos de como a escola, de modo geral, não reforça a autonomia de seus alunos. "Tem aluno que pergunta: professor, faz com caneta ou com lápis? Isso é só um exemplo das coisas que eles ainda esperam que a gente ensine, mostre, diga. Criamos seres muito dependentes e queremos que eles sejam felizes. Mas assim, não dá para ser."

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