sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A DOR MASCULINA


Hélio Consolaro*

Vamos ter hoje uma conversa masculina. As leitoras devem parar por aqui na sua leitura, não são convidadas a adentrar essas linhas. Vamos tratar da dor masculina.

O homem não é naturalmente esse casca grossa que as mulheres pintaram no quadro da humanidade. Elas mesmas nos ensinaram a não chorar:

- Homem não chora!

É uma tentativa de se livrar do incômodo momentâneo provocado pela criança, mas vai criando em nós aquela crosta insensível. Temos sempre que simular nossos sentimentos. Diz Gonzaguinha que homem também chora, guerreiro gosta de colo. Somos frágeis, mas temos que dar uma de durão.

Se somos tudo isso que falam de nós, foram nossas mães (mulheres) que nos ensinaram, portanto, não podem reclamar muito. Esta estátua de olhar perdido é uma obra feminina.

Abrir a guarda, escancarar o coração para uma mulher não é uma atitude inteligente. Já tentei ser um sujeito transparente com meus sentimentos, verbalizando-os, e só me estrepei. Aos poucos, fui descobrindo que o silêncio vale ouro.

Toda vez que fui transparente, minhas fraquezas voltaram, jogadas na minha cara. E quem faz isso comigo, caro leitor, seja mulher ou amigo, perde o meu respeito. Era um amor, foi uma amizade. Brigo, sou brutão, mas me atenho ao problema discutido.

Tancredo Neves, político e matreiro como todo mineiro, dizia que não revelava para ninguém seus próximos passos na ação política, porque se não os desse, não cairia em ridículo, não seria cobrado. As manobras devem ser pensadas, mas nunca reveladas, só para Deus. Não é diferente nos relacionamentos interpessoais.

Com isso, o homem conversa menos. A extensão entre o cérebro e a boca dele é grande; essa distância nas mulheres é bem menor. Pensam e imediatamente falam, por isso são mais tagarelas. Não se trata de tratá-las pejorativamente, mas é o modo de ser feminino.

Assim, nos tornamos mais calados, ruminamos nossas mágoas, até as externamos em atos, em revides, mas dificilmente as verbalizamos. Confesso que, quando passei por um desequilíbrio emocional, abri a caixa preta para meus filhos e amigos, mas percebi que minhas confissões se transformavam em armas contra mim. Voltei para o meu caramujo.

Devido a isso, a mesa de bar é um divã, pois o álcool tem o poder de derrubar barreiras, quebrar cercas. Saímos dele de alma lavada, leves e dormimos um sono aliviado. Daí ser o boteco um ambiente masculino, odiado pelas mulheres, porque nele seu homem fala as coisas, em casa, é trancadão.

O livro “Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor”, de Allan e Barbara Pease, Editora Sextante, traz uma visão científica (e bem-humorada) de nossas diferenças. Na página 88, afirmam: “A mulher que, à noite, fala sem parar só está gastando as palavras que sobraram de sua cota diária. Não quer ser interrompida com soluções para seus problemas”.

Se a leitora teimou, enfiou os olhos neste texto, apesar da advertência, necessita de uma punição. E ela está nas próximas linhas. As mulheres podem ser tudo isso que falamos delas, mas se falam tanto conosco, porque nos amam. Mulher calada, ao lado de um homem, é sinal de desprezo. Encrenca à vista.

A dor masculina queima sem arder, lamentada em versos. Quantos poemas foram escritos e quantas músicas cantadas por elas, quantos homens estão presos por causa delas. Nego-me a dizer que elas são um mal necessário, porque as bruxas são construídas por nós, homens.

Não sou pastor, nem padre, nem pretendo construir um mundo melhor, mas sou obrigado a escrever que mulher é um bem necessário. Se Deus fez coisa melhor, guardou-a para si. Sinta-se punida, prezada leitora. O fecho deste texto não podia ser mais medíocre.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor.

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