segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

EU PENSEI QUE TODO MUNDO FOSSE FILHO DE PAPAI NOEL



Anoiteceu o sino gemeu

a gente ficou feliz a rezar
Papai noel vê se você tem
a felicidade pra você me dar
Eu pensei que todo mundo
fosse filho de papai Noel
Bem assim felicidade eu pensei
que fosse uma brincadeira de papel
Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
com certeza já morreu
ou então felicidade é brinquedo que não tem.
(Letra da música Anoiteceu)

A minha infância foi marcada por uma indagação: por quê Papai Noel nunca trazia os presentes que eu tanto desejava?

Pensei na rede ou no beliche o que teria feito – em casa ou na escola, para que o bom velhinho não atendesse os meus pedidos e de muitos garotos que cresciam juntos comigo.

Que Papai Noel não trouxesse presente para o Pipoca ou para o Garoto Gordo que um dia eu quebraria a cara, tudo bem. O pipoca era um moleque muito esperto, um pequeno marreteiro que vendia bugigangas na feira do Jurunas. Ele não precisava esperar o bom velhinho nas intermináveis noites de natal. Pipoca ganhava o seu próprio dinheiro e comprova tudo o que desejava, já que os seus sonhos de consumo estavam expostos na banca que administrava.

Um dia matei aula e a convite do Pipoca fui à feira do Jurunas aprender um pouco sobre a profissão de marreteiro.

Pipoca ao final do expediente separou uma pequena quantia em dinheiro e escondeu no bolso da calça. Foi, então, que perguntei ao meu amigo marreteiro para que ele utilizaria aquelas patacas? Pipoca me respondeu como se fosse um homem feito que era para entregar ao fiscal do rapa.

A partir desse fato passei a desconfiar do poder do dinheiro. Aprenderia muito mais tarde que o dinheiro pode comprar praticamente tudo, inclusive o amor, o sexo, a amizade, as pessoas e a felicidade.

O gordo da rua recebia sem merecer os melhores presentes de Papai Noel. Era um menino muito mau e acostumado a bater em toda a molecada da rua. Cada dia ele escolhia um vítima nova. É claro que Pipoca jamais apanhou, pois pagou pela imunidade com vários objetos cobiçados da sua banca de marreteiro.

O problema é que eu não tinha enveredado pelas atividades comercias e comecei a ficar muito preocupado, pois a fila estava andando e tudo indicava que eu seria a próxima vítima daquele menino que habitava o lado esquerdo do peito do bom velhinho.

Aliás, nunca entendi porque Papai Noel trazia os melhores presentes para o garoto gordo da vila, onde morávamos. Meu autorama ela nunca trouxe, mas entregou na noite de natal um belíssimo para o garoto que infernizava as nossas vidas.

Noel é assim mesmo trata a garotada de forma desigual sem levar em conta seus problemas, esforços e os seus mais recônditos sonhos.

Numa manhã ensolarada a fila andou e chegou a minha vez de apanhar. A noticia se espalhou entre a garotada e eram favas contadas que chegara a vez de me submeter a força descomunal daquele incrível Hulk. Com muito medo saí para comprar uma grapete. Percebi no trajeto que o garoto gordo me espreitava e preparava mais uma emboscada. Voltei da taberna com o grapete escondida na camisa e quando ele me atacou acertei-o com a garrafa bem naquela verruga que ele tinha no rosto. Era seu calcanhar de Aquiles. O sangue escorreu pela face do valentão e ele saiu gritando desesperado pela travessa Tomás Rego.

Mais parecia uma menina assustada que tinha visto uma barata.

Agora me tornara o poderoso chefão da rua e o bom velhinho me entregaria o autorama tão sonhado. Foi isso que imaginei!!!! O Natal chegou e o meu autorama não amanheceu embaixo da minha rede.

Apesar de todas as decepções – durante toda a minha infância, continuei acreditando no bom velhinho. Ele nunca me daria o presente esperado, mas nunca esqueceria desse menino levado e dorminhoco. Às vezes ganhava sapatos, espadas, carrinhos ou uma arma de pirata, que estranhamente quebrava no primeiro tiro. Ficava imaginando como o Capitão Gancho poderia vencer alguma batalha com esses tipo de armamento.

Essas experiências explicam porquê meu filho Yuri não precisou passar por tantas inquietações. Não precisou colocar o sapatinho embaixo da cama. Poupei-o de todo desse sofrimento. Comprei todos os presentes que ele sonhou. Absolutamente todos. Presentes caros e às vezes de utilidade duvidosa. Dessa maneira ajustei as contas com o meu passado e com o bom velhinho.

Yuri não precisou acreditar que todo mundo fosse filho de Papai Noel.

Ainda bem!!!!

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