sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

RESILIÊNCIA


Hélio Consolaro*

Jogaram-me aos lobos, voltei liderando a alcatéia.

Síthylla Bruna



Nossa vida de humanos é bem esquisita. Estamos separados da natureza, mas ao mesmo tempo inserido nela. Comer, por exemplo, é um ato instintivo, qualquer animal o faz, mas o jeito de comer, a forma de preparar os alimentos é cultural – habilidade que os outros animais não possuem.

Houve um tempo em que uma parte da humanidade optou por sair totalmente da natureza, passamos a dominá-la, criando o nosso desenvolvimento tecnológico. O cavalo, por exemplo, foi a alavanca disso, pois o transformamos em tração animal, até chegarmos ao veículo semovente.

Já outro grupo ficou inserido na natureza, não se distanciou dela, Chamamos injustamente esses irmãos de atrasados, são os índios. A natureza é mãe. Os orientais ainda têm resquício desse grupo.

Temos memória. E há pessoas que gostam de habitar a memória dos demais, até depois de mortos. Criamos a história, patrimônio cultural, como forma de imortalizar-se. Uma forma de se rebelar contra a finitude.

A maioria anônima quer apenas conforto, sobreviver, nem todos conseguem, porque nos organizamos de tal maneira que aprendemos a acumular. Inicialmente, acumulava-se no verão para enfrentar o inverno, depois se tornou uma forma de dominar os demais.

Então, olhando para nós mesmos, inventamos teorias, filosofias, ideologias. E há também os famosos. Como somos muito, inventamos a comunicação de massa, para que não fiquemos isolados.

Quase sempre, os famosos são ricos. Se ficou famoso, mas não é rico, vende-se a fama, como artistas e jogadores de futebol. Os governantes também são famosos, trabalham com a mídia; alguns com facilidade, como ocorre com o ex-presidente Lula.

Atualmente, ele passa por um problema em sua saúde, câncer na laringe. Justamente a parte principal de sua atividade: a garganta. Meu amigo Heitor Gomes, por exemplo, afirmar que não sabe fazer nada na vida, apenas fala como vendedor e sobrevive bem. Geralmente, não sabemos explorar nossa potencialidade e nos julgamos com falta de sorte.

O Lula, por exemplo, não era para ser ninguém, o nosso estilo de vida não lhe deu oportunidades. Como uma tiririca teimosa, ele foi buscar o sol nas trincas do cimento endurecido da estrutura social. Com certeza, hoje, ele não almeja mais nada, a não ser viver bem o resto de seus dias.

A oposição raivosa começou a denegri-lo, mesmo na doença. Ele começou a pousar de vítima, apareceu careca (efeito da quimioterapia) na mídia para todo mundo ficar com dó dele. Os inimigos puseram a viola no saco e foram cantar noutra freguesia.

Isso ocorreu também com Reynaldo Gianecchini, de nossa vizinha Birigui. Permanecer na mídia é importante para um artista. E tais atitudes são, também, formas de conscientização para que as pessoas se previnam contra o câncer.

Diego Salles faz humor no Jornal da Tarde, misturando texto com charge. Ele é irônico sem ser maldoso. Sobre o Lula careca, afirmou que José Serra se achou contemplado, pois o ex-presidente ficou parecido com ele. Já José Sarney alegrou-se com a permanência do bigode, que ficou mais destacado, lembrando o político maranhense. Até Espiridão Amim se achou no Lula, só pediu que metalúrgico tirasse todos os pelos: sobrancelhas, cílios, etc.

A vida dos humanos é mesmo esquisita. Devemos ter humor para enfrentá-la. Caso contrário, se torna um vale de lágrimas. Gianecchini e Lula, a solidariedade de um reles croniqueiro.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP. E-mail: conselio@gmail.com

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