terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O ATO DE PENSAR, COMO CASTIGO NA EDUCAÇÃO



Começo meu artigo pensando num mundo melhor, onde o diálogo prevaleça, que as famílias tão ausentes na sociedade atual, não procurem a forma mais fácil de corrigir seus filhos, apoiadas no pensamento de vários especialistas que colocam esta prática como solução para problemas disciplinares.
Meus vários anos de estudo e reflexão, me dão hoje o direito de pensar num cantinho, sobre o que é mais saudável para o desenvolvimento bio-psio-social, o que não conseguiria fazer, sem os pré-requisitos que fui acumulando ao longo da minha existência e após várias pesquisas e estudos na área da Pedagogia , Psicologia e Psicopedagogia.
Nos dias atuais, é comum ouvir-se de professores, que mandaram a criança pré-escolar para um cantinho pensar, quando estas fazem alguma coisa que desagrada. Este pensar, é reconhecido pelo aluno, como castigo, embora muitas vezes ele nem saiba falar direito, e nem das fraldas tenha saído.
Como professora de Filosofia, tenho uma outra abordagem sobre o ato de pensar, e não o associo a punição, uma vez que a reflexão contribui para o aprendizado e também desenvolve o espírito crítico, contribuindo para o desenvolvimento da inteligência e para o aprimoramento do conhecimento.
Portanto, quando faço a criança pensar que será castigada, e que tem que pensar, estou demonstrando à ela, que pensar não é um ato que possibilita buscar soluções para resolver problemas, e sim um castigo, porque toda vez que não agrada, a colocam para pensar.
Esta forma de punição é transferida da escola para casa, e vice-versa, as pessoas não sabem como resolver a indisciplina, que muitas vezes está relacionada com a falta de cumplicidade, de diálogo e de afeto dos envolvidos.
A criança reconhece quando reprovamos seu ato, mas dependendo da idade, não tem maturidade para entender porque estou acuada para pensar, e fica desolada e desconfiada, o que afetará seu estado emocional, e poderá trazer outras consequências para o desenvolvimento social.
Portanto, evitar constrangimento é uma forma saudável de educar, previsto no próprio Estatuto da Criança e do Adolescente ( ECA -Lei 8069\90).
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Art. 71. A criança e o adolescente têm direito à informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição de pessoa em desenvolvimento.

A Lei 9394\96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), trata sobre as finalidades da Educação conforme segue:
Título II - Dos Princípios e Fins da Educação Nacional.
Art. 2. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 3. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;

Durante mais de trinta anos de magistério, dentro e fora da sala da aula, exercendo função de professora e Gestora, pude observar quanto o diálogo é importante, sempre apoiado na tolerância.
Para dialogar você precisa parar o que está fazendo, olhar para criança e vê-la, permitir que ela sinta que sua atenção está nela e que existe afetividade, cumplicidade, respeito e carinho.
Quando um educador manda uma criança pensar, provavelmente ele não quer dispor de tempo para a mesma, ou não sabe que orientação dar naquele momento.
Quem educa precisa ser inteligente, criativo e receptivo e nunca menosprezar ou subestimar a inteligência de uma criança, reconhecer que ela quer ouvir, argumentar e entender.
Educar é um processo a longo prazo, portanto, não espere que sua criança entenda quando você explica uma vez, duas, três... Tenha paciência, e pense que quando você estiver na velhice, ele terá com você a mesma paciência que você a ensinou a ter na infância.
Após a educação dialogada, pais e filhos, não terão problemas de comunicação, vão aprendendo a se conhecer, a se respeitar e a trocar sonhos,frustrações e as experiências concedidas pela vida, onde cada um sabe qual é o seu papel e o seu limite.
E aos educadores que utilizam o cantinho em sala de aula, deixo a mesma orientação, paciência, amor, afetividade e acima de tudo, compromisso com o ser que está em formação na idade pré-escolar, para que ao chegar no ensino fundamental, ele tenha uma postura mais adequada.
Educar é um compromisso que começa no útero materno e se estende por toda a existência humana, portanto quem educa deverá aprender que é a persistência e o amor que elevam as criaturas e possibilita a fala entre as almas.

Irene Fonseca

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